Torres Vedras

A festa pascal

01.03.2016

A festa é sempre momento de passagem, razão por que a lembramos aqui, e particularmente a festa judaico-cristã da Páscoa, que significa precisamente ‘passagem’, de um acontecimento do passado, mas também de um acontecimento presente que se renova.

A Páscoa era, como hoje, uma das festas religiosas mais celebradas no termo torriense, assim como em todo o território nacional. Muitas delas tinham origem pagã, sendo absorvidas pelo Cristianismo, e se prolongariam por toda a Idade Média, tendo chegado algumas até nós, quando não colidiam com a moral cristã. Festas que tinham uma relação direta com as estações do ano ou ritmos de passagem ou, ainda, com o calendário agrícola. No termo torriense, e não só, as festas religiosas de maior relevo eram, sem dúvida, o Natal e a Páscoa, festas de comunhão e de partilha, de momentos e de presentes, que em tempos recuados se chamavam ‘Menino Jesus’, colocados no sapatinho, ao qual se corria pela manhã do dia 25 de dezembro.

O Natal era, como hoje, a celebração do nascimento de Jesus, e sobretudo de Maria, a figura proeminente do Advento, celebrado nos quatro domingos que antecedem o Natal, que corresponde ao primeiro tempo do ano litúrgico, como testemunha a mensagem contida na oração «Ave-Maria», primeira manifestação da esperança pela vinda do Messias.

A Páscoa, que se enquadra no terceiro tempo litúrgico, era, a par daquela, a outra festa de exaltação da família, ambas públicas, porque vividas comunitariamente. A Páscoa marcava o termo do longo período de 40 dias, a Quaresma, o terceiro tempo litúrgico, de preparação para a festa, um tempo de contenção, no gesto e na palavra, com especial relevo para a prática do jejum, da abstinência e de uma vivência religiosa mais intensa e sentida. Era o tempo da desobriga, da obrigação de todos os fieis se confessarem e comungarem, sendo por vezes alvo de excomunhão, quando algum o não fazia, como testemunham os Róis de Confessados. Tempo de penitência e mortificação do espírito e do coração, de comemoração da Paixão de Cristo, por isso se proibia o baile em sábado santo! Mas nem por isso deixava de ser tempo de celebração – testemunhando-o a Procissão dos Passos. Penitência que contrastava com o Carnaval… no domingo gordo e na terça-feira de Entrudo, dias de outras festas, de folia, porém já passadas.

O 4.º tempo litúrgico, o do Triduum Sacrum (Tríduo Santo ou Pascal), isto é o conjunto dos acontecimentos vividos por Jesus ao longo de três dias, desde a noite de quinta-feira Santa, durante a Última Ceia, e nas horas derradeiras até à manhã do Domingo de Páscoa, é hoje evocado na ‘fração do pão’ e relembrado pelos cristãos na Eucaristia. Neste curto espaço de tempo está contido o mysterium paschale, a verdadeira presença viva do mysterium eucharisticum, celebrado mais intensamente no domingo de Páscoa – dia de Ação de Graças (Eucaristia), momento de festa, porque de celebração da morte de Cristo, entendida como autodoação da sua vida, corpo entregue para ser recebido, unindo-se à sua Ressurreição. Assim se comemora este dia de Páscoa, estabelecido do Concílio de Niceia, em 325, devendo ser celebrado no domingo após a primeira lua cheia do equinócio vernal, eclesiasticamente estabelecido a 21 de março. Razão por que a data da sua celebração é móvel, situando-se entre 22 de marçoe 25 de abril.


Carlos Guardado da Silva

Última atualização: 14.08.2019 - 10:24 horas
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