Torres Vedras

Ramalhal: festa e tradição

01.09.2012

Arcos de Murta do Ramalhal

Nestes meses em que o calor dá tréguas e começa a cair a folha, decidimos conhecer um pouco melhor uma freguesia do interior do concelho: Ramalhal. Não apresentaremos um roteiro intensivo, mas antes pontos de interesse que não deve perder aquando da sua passagem ou visita. Situada a 7 kms a norte da sede do concelho, ocupa uma área geográfica de 36 km2 e é atravessada pelo rio Alcabrichel. Ramalhal, Ameal, Abrunheira, Casais Larana e Vila Facaia são as localidades que compõem a freguesia.

O topónimo, Ramalhal, está ligado ao próprio significado da palavra: conjunto de ramos vegetais ou ramagem, o que alude ao facto da localidade ter sido, em tempos, uma mancha de verde na paisagem.

O topónimo, Ramalhal, está ligado ao próprio significado da palavra: conjunto de ramos vegetais ou ramagem, o que alude ao facto da localidade ter sido, em tempos, uma mancha de verde na paisagem. Há ainda quem aponte a provável origem do nome como estando associada ao apelido Ramalho. A localidade conheceu maior desenvolvimento durante a ocupação romana, provavelmente devido à proximidade do rio Alcabrichel, que deveria constituir uma via comercial significativa e cujo vale seria bastante fértil para a atividade agrícola. Ligado à ruralidade desta freguesia, realce para o facto de aqui se produzirem boas frutas, vinhos e cereais. Como estamos numa época de vindimas, refira-se que a vinha também teve um papel importante na vida das gentes da terra, sendo que do brasão da freguesia constam dois cachos de uva púrpura. Atualmente, as principais atividades económicas são a indústria do barro vermelho, grés e carvão vegetal.

Destacada das festividades da terra, a Festa do Ramalhal, que este ano decorre de 8 a 12 de setembro, realiza-se   em honra de Nossa Senhora da Ajuda e sente-se uma grande carga tradicional associada, que ainda hoje persiste.

O belo largo do Ramalhal [2], conhecido por Rossio, ganha vida e movimento e os arcos de murta [1] testemunham a passagem de uma importante tradição. Os arcos feitos de murta são o símbolo mais forte desta festa. Constituem uma arte que vem de longos tempos, transmitida de geração em geração e o seu levantamento, outrora feito com a força dos bois e a ajuda dos homens, é um momento de grande emoção para os locais. Os arcos de murta têm, habitualmente, onze metros de altura e os seus desenhos são sempre diferentes.

Os arcos de murta têm, habitualmente, onze metros de altura e os seus desenhos são sempre diferentes.

No largo principal do Ramalhal, onde funciona o renovado mercado da localidade, atente no pitoresco coreto que ganha destaque no enquadramento geral e visite, ainda, a igreja matriz. Construída no século XVIII, o seu interior tem um altar-mor e dois altares laterais, de rica talha dourada, em madeira do Brasil. As paredes são cobertas por azulejos pintados com cenas religiosas que merecem a sua atenção. Caso tenha oportunidade, faça um passeio pelas ruas estreitas e desalinhadas. As casas mais antigas, que se encontram através de um olhar mais demorado, remetem-nos para a ruralidade de tempos passados… São pequenas, baixas, geralmente com um só piso, e com telhados de telha canudo. Era nos quintais, mais espaçosos, que muitas pessoas tinham as suas adegas, abegoarias para a instalação dos gados e telheiros para arrumo da lenha e das alfaias agrícolas.

Se procura embrenhar-se ainda mais na vivência antiga destas gentes, encontrará, no percurso, diversas adegas e lagares localizados junto às habitações principais; poços empedrados e fechados com abóbodas redondas, nos quais as populações obtinham a água para a sua subsistência; e várias fontes.

Aproveite bem esta viagem pela nossa terra…

Há sempre muitas realidades desconhecidas, ou que se arriscam a perder-se no tempo, que nos surpreendem a cada passo pelo nosso concelho.

 

Estrada Militar Romana - pelo Ramalhal passava a Estrada Militar Romana que ligava Lisboa e o Norte, através de Montachique.

Estação de comboios - a Estação de Comboios do Ramalhal merece uma visita. Situa-se no troço entre Torres Vedras e Leiria, que abriu à exploração em agosto de 1887.

Livro - "A freguesia do Ramalhal no tempo", de Joaquim Gomes, está à venda na Junta de Freguesia.

Artesãos - se for ao Ameal, conheça o trabalho minucioso desenvolvido pelo Sr. António Lopes e Maria do Rosário Lopes, artesãos que perpetuam lembranças de antigamente.

Cerâmica - a freguesia do Ramalhal tem quantidade e qualidade de terrenos de barro vermelho, que deram origem a uma importante indústria cerâmica.


Texto: Andreia Correia
Fotografia: Pedro Fortunato

Última atualização: 27.09.2019 - 17:57 horas
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