José Correia
11.05.2022
José Correia é desde o passado mês de outubro o presidente da Assembleia Municipal. Conhecido na comunidade torriense principalmente pelos diversos cargos diretivos que ocupou em associações locais, foi, na sua infância e juventude, atleta da Física e do Torreense, tendo o seu gosto pelo desporto o levado a iniciar o seu percurso profissional precisamente como professor de Educação Física, enveredando, mais tarde, pela área da gestão educativa e, posteriormente, pela área da gestão empresarial aplicada. A [Torres Vedras] esteve à conversa com José Correia, numa entrevista em que se abordou, para além do seu percurso associativo e profissional, também outros assuntos, como a atividade da Assembleia Municipal, o crescente alheamento da população relativamente à participação cívica e a evolução e o futuro do Concelho. Na opinião de José Correia, o crescimento sustentável é o grande desafio que se coloca a Torres Vedras…
Começava por lhe pedir para fazer um balanço da sua experiência de desempenho das funções de presidente da Assembleia Municipal…
Tem sido uma experiência bastante interessante e positiva. É um mandato que me orgulha como torriense, como cidadão, estou grato por poder desempenhar este cargo e estou a tentar desempenhá-lo o melhor possível. Para isso tenho tido a colaboração até das diferentes forças políticas e de muitas pessoas, de muitos dos nossos munícipes, dos nossos cidadãos, de amigos, torrienses, que também têm ajudado a que este meu exercício vá decorrendo muito bem e de forma muito agradável para mim.
Uma das iniciativas levada a cabo já no atual mandato da Assembleia Municipal foi a criação de quatro comissões temáticas: uma dedicada à revisão do PDM; outra dedicada às questões de Saúde e Sustentabilidade; outra à Economia e Demografia; e uma quarta, dedicada a questões relacionadas com Mobilidade, Ambiente e Território. Que importância atribui a essa iniciativa?
Eu sou o promotor da criação dessas comissões, as quais foram aceites por todas as forças políticas. Estas comissões foram criadas no sentido de se encontrar soluções para os problemas da nossa comunidade, envolvendo a mesma. E isto é uma função pedagógica da Assembleia Municipal. Levar a que os torrienses percebam, discutam e encontrem em comum soluções para os problemas da sua comunidade. E a Assembleia tem de fazer esse trabalho. As comissões vêm muito nesse sentido.
Estão para o futuro previstas novas iniciativas no âmbito da atividade da Assembleia Municipal?
Sim. Queremos desenvolver as ditas assembleias municipais temáticas, o que não é uma novidade, tendo em conta que até já existe uma Assembleia Municipal para jovens.
Também queremos fazer assembleias municipais temáticas para as nossas associações, bem como na área da Economia e da Saúde.
E nestas assembleias municipais temáticas envolveremos os respetivos atores, já estamos, de resto, a trabalhar nesse sentido, visto que só assim conseguiremos encontrar soluções ou pelo menos propor soluções.
O funcionamento de um órgão como a Assembleia Municipal não é, de resto, uma novidade para si, tendo em conta que, recorde-se, há alguns anos atrás, fora já membro da Assembleia Municipal…
Sim, fiz dois mandatos, no início do século, na Assembleia Municipal, em que muito aprendi, mas nunca exercera anteriormente nenhum cargo político, até porque tenho tido uma atividade profissional muito intensa e ocupante. Nunca tinha tido disponibilidade. Agora, fui sempre um homem das associações…
Poderia, a esse propósito, recordar, de forma breve, o seu percurso associativo?
Aos 18 anos era diretor da Física de Torres Vedras, o diretor mais jovem que alguma vez a Física de Torres Vedras teve. Fui mais tarde presidente desta associação, até porque sempre vivi dentro da Física, desde os três anos de idade, onde comecei por ser ginasta, tendo, posteriormente, sido aí basquetebolista, ao mesmo tempo que era futebolista no Torreense. Fui também fundador e presidente da Cooperativa de Comunicação e Cultura. Foi, aliás, na minha presidência que se fez a atual sede da Cooperativa, o que muito me orgulha. Estou também há muitos anos ligado aos bombeiros, fui presidente da Direção e há bastantes anos que sou o presidente da Assembleia Geral. Tenho estado por isso ligado há muitos anos a associações que representam desígnios importantes na nossa comunidade, e tenho muito orgulho de todo esse processo e de toda essa minha intervenção. Sou um homem associativo.
Que valores têm norteado a sua intervenção cívica?
Fazer bem e ter responsabilidade. Eu sempre pensei em fazer bem de vários pontos de vista, mas neste caso do ponto de vista social, associativo e político. Eu sou um voluntário para as causas públicas. A militância pelas causas comuns, justas e adequadas, é o que me tem norteado.
Acha que neste momento existe um certo alheamento dos cidadãos relativamente à vida cívica e comunitária?
É uma evidência. E quem não tem essa atitude, como é o meu caso, vai fazendo o que pode. É também para contrariar essa tendência que, no âmbito do trabalho da Assembleia Municipal, estamos a tentar envolver o mais possível a comunidade. Por outro lado, estamos também a tentar fazer perceber que as pessoas que se envolvem na política são gente séria e competente. Podem não ser os melhores do mundo, mas são pessoas que tentam trazer a sua competência e o que de melhor sabem para a atividade política. E isso tem de ser respeitado, enaltecido e tem de ser motivo de estimular outros a fazerem o mesmo.
Nasceu nas Caldas da Rainha e com nove meses de idade veio para Torres Vedras, onde tem sempre vivido. Como tem visto a evolução de Torres Vedras e do Concelho ao longo das suas décadas de vida?
Eu sou torriense de gema, sou assumidamente torriense. Não tenho outra memória sem ser a de viver aqui.
Torres deu passos enormes do ponto de vista de crescimentos vários, e de vários desenvolvimentos. E uma coisa que cresce para se tornar desenvolvida é preciso que se torne sustentável. E Torres fez efetivamente um esforço em muitas dimensões das suas atividades no sentido da sustentabilidade. Segundo os últimos Censos a nossa população continua a crescer, apesar do país estar em regressão demográfica. Isso significa que há captação de pessoas para se fixarem cá. Mas o aumento demográfico cria-nos problemas vários, que passam pelas questões, por exemplo, da habitação, da educação, da saúde e da mobilidade. E lá está, coloca-se o problema da sustentabilidade, da gestão integrada e harmoniosa de todo um conjunto de elementos, apesar de muitos deles fazerem pressão de per si. O nosso Concelho tem muito esse desafio, de transformar o crescimento em desenvolvimento, ou seja, de criar um crescimento sustentável.
Voltando a olhar para o passado, pedia-lhe que fizesse uma breve abordagem ao seu percurso profissional.
O primeiro curso universitário que fiz foi o de Educação Física, no Instituto Superior de Educação Física de Lisboa, atual Faculdade de Motricidade Humana. Comecei por ser professor do ensino básico e secundário, de 76 até 89, exerci todos os cargos que poderiam existir para um professor nas escolas, desde diretor de turma a presidente do conselho diretivo. Estive envolvido na criação da Direção da Área Educativa do Oeste e, posteriormente, fui captado para exercer, em Lisboa, funções no Ministério da Educação. Fui aí dirigente durante cinco anos, tendo estado envolvido na gestão de fundos comunitários para a Educação. Mais tarde fui administrador da Universidade Técnica de Lisboa, tendo acabado o meu percurso nessa universidade, o qual durou 10 anos, como diretor executivo do Instituto Superior Técnico. A minha participação na administração pública terminou aí. Fui então trabalhar para uma empresa de auditoria e consultoria de grande dimensão, a Deloitte, durante oito anos, em que fui responsável pela área de desenvolvimento de negócios. Depois disso, de 2012 a 2017, estive a trabalhar aqui no Concelho, no Grupo Paulo Duarte, onde fui diretor-geral, numa altura difícil para esse grupo, em que foi necessário proceder a uma reestruturação e recuperação financeira e organizacional, uma área na qual já trabalhava. Posteriormente fui administrador de uma plataforma criada pela Caixa Geral de Depósitos, pelo Banco Comercial Português e pelo Novo Banco para tratar de crédito malparado. Entretanto fui fazendo todas as formações académicas adequadas às funções que ia desempenhado.
Para além da economia, do desporto, da política e do mundo associativo, tem outros interesses que gostasse de confidenciar?
Sou um homem de leituras, que digam respeito às áreas sociopolíticas e socioeconómicas. Sou devorador de ideias e gosto muito de ser surpreendido. E cada vez sei menos do que se sabe, por isso o melhor é ir-me informando.
Estamos num mundo que está numa evolução constante e extremamente rápida. Ir acompanhando essa evolução é um grande desafio…
É impossível. O volume de produção e de disseminação de conhecimento é completamente impossível de acompanhar.
Gostaria de deixar alguma mensagem, algum repto final aos seus conterrâneos?
Que participem, que deem opinião, que apresentem soluções, que levantem as suas preocupações, mas que participem, na atividade política, na atividade associativa, que sejam cidadãos!
Quando: 24 de fevereiro
Onde: Edifício dos Paços do Concelho
Entrevista: Tiago Oliveira
Fotografia: Susana Batista