Torres Vedras

Carros alegóricos

13.09.2023

Os carros alegóricos são um elemento central do corso desde 1931 quando surge a batalha de flores em Torres Vedras.

Na década de 1930, 1940 e 1950, os carros eram puxados por juntas de bois e eram um veículo promocional das casas comerciais e industriais da então vila (Casa Hipólito, Francisco António da Silva ou Chagas). Juntavam-se ainda as famílias mais abastadas da vila com os seus carros particulares ornamentados a preceito.

Admirados pela sua excelência artística, muitos dos carros que se destacaram ao longo dos anos foram construídos por Amílcar Guerreiro, Celestino Muñoz e Luís Faria, tais como: carro dos reis “elefante” (1933)1; o penedo do guincho (1933); o chafariz dos canos (1934); carros dos reis “quadriga Romana” (1935); o carro elétrico da “Companhia dos carrinhos de Linhas de Torres” (1951); carros dos reis “carro trenó”, uma vara de porcos substituía as renas (1951). As coletividades culturais e desportivas também se fazem representar nos seus próprios carros. Após a morte de Luís Faria, já na década de 1960 e 1970, outros artistas como Heitor e Marques Alves começam a procurar inovar e, em 1971, os carros alegóricos são “apetrechados com a técnica italiana do movimento”2, tal como se fazia no carnaval de Estoril.

Entre 1981 e 1993, sob a direção artística de José Pedro Sobreiro, participaram alguns artistas que exploraram a utilização do poliestireno expandido (esferovite), que pela sua leveza facilitou a execução de figuras escultóricas de maior volume e libertou tempo para a criação de figuras de tipo “cartoon”, revestindo as peças de uma dimensão plástica e artística de cunho mais humorístico. É então que a temática dos carros alegóricos começa a versar-se na sátira política e social. Entre uma vasta equipa de carpinteiros, serralheiros, estucadores e voluntários, destaca-se os contributos de José Pedro Sobreiro, Éfrem Faria, António Trindade e António Jorge Travanca que desenharam, esculpiram, moldaram e pintaram as peças dos carros alegóricos e/ou as decorações de ruas.

Em 1988, o carnaval passou a estar subordinado a um tema anual, o que se refletiu na temática abordada nos carros alegóricos. Assiste-se também a um desenvolvimento ao nível mecânico. Os carros que até à década de 1990 eram puxados por tratores passam a ter o chassis integrado em viaturas automotorizadas.

Nos finais da década de 1990, Bruno Melo começa a experimentar outros materiais como a fibra de vidro, as resinas sintéticas, os polietilenos, que dão mais durabilidade e resistência às peças. As primeiras empresas que trabalharam com estes novos materiais foram a “Guliver” (criada por Bruno Melo) e a “Vértice” (de Adriano Penetra), parceira da “Aresta” (de António Trindade e Olga Moreira). Atualmente, os criativos que encabeçam a conceção dos projetos dos carros alegóricos são Bruno Melo, Hélder Silva e Fernando Sarzedas, que já colaboravam com a “geração anterior” de artistas.

 

Notas
1 - No ano seguinte, este mesmo carro percorreu o país a promover o carnaval de Torres Vedras.

2 - Badaladas, 27 de fevereiro de 1971.

 

Texto: Ana Almeida. Centro de Artes e Criatividade de Torres Vedras

Última atualização: 16.11.2023 - 16:18 horas
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