Torres Vedras

Património religioso

Conteúdos desta página

  1. Igreja de Santa Maria do Castelo
  2. Igreja de S. Pedro
  3. Igreja de Santiago
  4. Igreja de Nossa Senhora da Misericórdia
  5. Convento do Barro
  6. Convento de Santo António do Varatojo
  7. Igreja e Convento de Nossa Senhora da Graça
  8. Judiaria de Torres Vedras

Acessibilidade em Espaços Culturais e Artísticos

A ANACED (Associação Nacional de Arte e Criatividade de e para Pessoas com Deficiência) criou um Directório sobre Acessibilidade em Espaços Culturais e Artísticos do Distrito de Lisboa.

Este documento, que visa uma maior participação de pessoas com necessidades especiais nas atividades culturais promovidas pelos diversos espaços culturais, contou com o Município de Torres Vedras como parceiro.


Igreja de Santa Maria do Castelo

Situada no interior do Castelo de Torres Vedras, a Igreja de Santa Maria é uma das mais antigas das quatro matrizes da Cidade. É mesmo provável que tenha sido erguida sobre algum templo islâmico, aí existente durante o período de dominação árabe. 

A sua construção deverá remontar à segunda metade do século XII, pouco tempo depois da tomada do Castelo aos mouros, por D. Afonso Henriques, em 1148. 

O orago da igreja é Nossa Senhora da Assunção (15 de agosto). Até ao início do século XIX, na noite de 14 de agosto faziam-se diversas fogueiras no adro da igreja e nas ameias do Castelo, para comemorar o dia em que, segundo a tradição, D. Afonso Henriques terá tomado o Castelo aos mouros.

Implantada num local altaneiro, a igreja é precedida de uma escadaria de acesso e a sua cabeceira está voltada a poente, como era costume nas igrejas medievais. 

A igreja apresenta os únicos vestígios arquitetónicos do estilo românico existentes no concelho de Torres Vedras. Os trechos românicos, classificados como Monumento Nacional, resumem-se aos portais principal e lateral. Os dois são em arco perfeito, muito simples, com capitéis lavrados com folhagem destacada; os capitéis do portal principal, sobre colunas, representam ainda duas pombas (símbolo da Eucaristia). No portal lateral existem inscrições do início do século XII.

A igreja é de planta longitudinal e de uma só nave. Sucessivas obras e restauros, nomeadamente após os grandes estragos sofridos com o terramoto de 1755, alteraram consideravelmente o seu interior. Os altares de talha, de finais do século XVIII, não apresentam especial qualidade artística.

No altar-mor, merece especial destaque a belíssima escultura de Santa Maria, de madeira policromada e dourada, que é retratada sentada, com o menino ao colo e um ceptro na mão. Ao seu lado, no mesmo altar, figuram as imagens de S. Miguel Arcanjo e de S. Francisco de Borja (protetor contra os terramotos).

Nas paredes laterais da capela-mor encontram-se duas telas, representando as Bodas de Canã (lado direito) e a Sagrada Comunhão (lado esquerdo). No teto pintado do altar-mor e na mesa do altar destaca-se o anagrama AM (Avé Maria). 

Do primitivo retábulo do altar-mor, restam ainda as cinco pinturas atribuídas a Jorge Leal e datadas do primeiro quartel do século XVI, que representam os passos da vida de Nossa Senhora:  Anunciação, Visitação, Adoração dos Pastores, Adoração dos Reis Magos eAssunção de Nossa Senhora. Estas pinturas podem ser admiradas no Museu Municipal Leonel Trindade.

Sobre o arco cruzeiro figura urna tábua representando o Sagrado Coração de Maria e, sob o mesmo arco, uma laje com a inscrição Pater Noster. Já no corpo da nave, junto ao arco cruzeiro, estão dois altares colaterais, dispostos em ângulo. O altar do lado do Evangelho (esquerda) é dedicado a Santo António, cuja imagem figura junto a urna tela que retrata o milagre de ter livrado o seu pai da forca; no topo do altar figuram os atributos do santo: a cruz e olivro. O altar do lado da Epístola (direita) é dedicado a Santa Catarina, cuja imagem, de grande qualidade, figura junto a uma tela que retrata a sua presença perante os doutores; no topo do altar figuram os atributos da santa: a espada, a folha de palma e a roda dentada.

A igreja tem ainda dois altares laterais; um dedicado ao Menino Jesus (antigo altar do Santíssimo Coração de Jesus, ao qual pertencia a imagem de Santo Antão) e outro dedicado a Santo Cristo, representando o Calvário e datado de 1768. 

A nave é forrada de silhares de azulejos do tipo “D. Maria”, de 1790. O púlpito, de mármore rosa com embutidos, é do século XVII. Junto à porta principal, existe um cadeiral simples.

Na capela batismal, forrada de azulejos de padrão, seiscentistas, pode admirar-se uma bela pia batismal oitavada, do século XVI, com vestígios da antiga pintura decorativa.

O coro alto forma uma tribuna delimitada por balaústres torneados, apoiada sobre duas colunas caneladas, com pias de água benta em forma de concha, sendo o teto pintado com simbologia do Antigo Testamento. Nele se situa o cadeiral maneirista, de grande simplicidade e muito semelhante ao da Igreja de S. Tiago, por cima do qual figura uma belíssima tábua pintada, do início do século XVII, representando a Ressurreição. Também no coro estão as caixas dos dois antigos órgãos.

A igreja de Santa Maria tem a rara particularidade de possuir duas torres. Uma é a normal torre sineira e, a outra, é a torre do relógio, com os seus dois sinos. Esta última é propriedade da Câmara Municipal que, até aos dias de hoje, continua responsável por dar corda ao relógio duas vezes por dia. As duas torres ruíram com o terramoto de 1755 e foram reconstruídas posteriormente.

Projetos

Horário

  • Terça a domingo, das 10h00 às 18h00

Igreja de S. Pedro

A Igreja de S. Pedro, a par da de Santa Maria do Castelo, é a mais antiga das quatro matrizes da cidade e a segunda, em precedência, a seguir àquela. Sabe-se que já existia no reinado de D. Afonso Henriques, mas foi totalmente reconstruída no início do século XVI, sofrendo nova reconstrução após o terramoto de 1755. Apresenta planta longitudinal e a cabeceira voltada a poente, como era costume nas igrejas medievais. Tem uma pequena sacristia que comunica com a Casa da Irmandade dos Clérigos Pobres, onde, em 1929, funcionou o Museu Municipal, e onde funciona, atualmente, o Cartório Paroquial. Trata-se de uma interessantíssima sala, cujas paredes são forradas com azulejos figurativos setecentistas, com base em gravuras de Cláudio Coelho, e o teto com quatro telas de Bernardo de Oliveira Góis, representando os evangelistas. A torre sineira, adossada à direita da igreja, é de planta quadrangular.

Notável é o pórtico principal, de estilo manuelino, de duas arquivoltas com decoração vegetalista e de animais fantásticos, encimado pelo escudo de armas de D. Maria, mulher de D. Manuel I. No teto, junto à porta, datada de 1712, figuram os atributos de S. Pedro: a tripla tiara papal e as chaves do paraíso. Na fachada lateral norte existem outros dois pórticos: o primeiro, também quinhentista, de moldura retangular, é encimado por um frontão de volutas, com as armas de S. Pedro entre duas cornjjas e rematado por cruz; o segundo é um portal manuelino, decorado com flores de quatro pétalas e encimado por um rosto humano, proveniente de uma capela do Turcifal, demolida no século XX. 

O altar-mor é de ótima talha dourada, com belos entalhes, e data de 1683. Apresenta colunas dois nichos de baldaquinos concheados, com as imagens de S. Pedro, do lado esquerdo, e de S. Paulo, do lado direito. Merece especial realce o relevo estofado da porta do sacrário, representando a Ressurreição. Dos dois lados da capela-mor, pintada com marmoreados, figuram quatro telas de doutores da igreja, em boa pintura, com molduras de talha dourada. A capela-mor é separada da nave por uma teia seiscentista de torneados de pau-preto. As paredes são decoradas por azulejos de ponta de diamante, com cercadura de “dente de lobo” e um rodapé de azulejos de tipo tapete, todos do século XVII. No teto, pintado, o Cordeiro de Deus.

O corpo da igreja é de três naves de quatro tramos, separadas por arcos plenos sobre oito colunas com capitéis toscanos, sendo os arcos do último tramo manuelinos, com representação de flores estilizadas. O teto da nave central é em abóbada de berço, de madeira, com caixotões e ornatos pintados, do século XVIII. As naves laterais são cobertas por abóbadas de cruzaria, da segunda metade do século XVI. 

Junto ao arco cruzeiro, estão dois altares colaterais. O do lado do Evangelho (esquerda), também de talha dourada do barroco pleno, é dedicado a Nª. S.ª da Conceição, onde a imagem da Senhora é ladeada pelas de seus pais, Santa Ana e S. Joaquim. O do lado da Epístola (direita) é dedicado à Santíssima Trindade, e apresenta a imagem de S. Tiago. Esta capela foi instituída pela família Perestrelo, cujo brasão de armas encima a janela; nela se encontra um arcossólio (cujo arco envolvido por nastros imita formalmente o arco do portal principal), onde está depositada a arca tumular renascentista de João Lopes Perestrelo, famoso navegador, companheiro de Vasco da Gama na sua viagem à Índia.

Na nave esquerda, situa-se o altar de Cristo Crucificado, com a imagem de N. Sª das Dores: o seu atual aspeto deve-se à oxidação da purpurina que lhe foi aplicada tardiamente. Na nave direita, situa-se a capela da Senhora da Boa-Hora, fundada em 1613, com a imagem de Nossa Senhora e três telas, representando o Presépio, N S.ª da Conceição e uma impercetível; as paredes da capela são pintadas e forradas de silhares de azulejos figurativos setecentistas, representando passos da vida de Nossa Senhora: Anunciação, Deposição de Cristo, Assunção, Casamento e Fuga para o Egipto. Segue-se o altar de Nª. Sr.ªde Fátima, em talha, do século XVIII.

As paredes da nave são forradas de azulejos enxaquetados verdes e brancos, do século XVI e, ladeando o guarda-vento, de azulejos de padrão, do século XVII. Existem, também, silhares figurativos, do século XVIII, junto ao altar de N.ª Sr.ª da Conceição - de temática profana - e na nave central, onde figuram quatro cartelas com atributos de S. Pedro: o barco (por ser pescador), a espada cortando uma orelha (a orelha que cortou a Malco), o galo (da negação de Cristo) e os grilhões (por ter estado preso).

O púlpito, de mármore recortado, é digno de realce. O batistério, coberto por abóbada de concha, é resguardado por uma grade de ferro, executada em 1719, e possui uma pia batismal manuelina.

O coro alto, com balaustrada e cadeiral, liga-se à bela mísula de talha dourada, com ornatos do estilo rocailie, onde se encontra um bom órgão, do século XVIII. 

Junto ao guarda-vento, para onde foram deslocadas no século XIX, encontram-se diversas sepulturas com inscrições, como as de Martim João Bravo, da Casa da Imperatriz D. Isabel (de mármore, com um brasão de armas com um leão rompente), de António Perestrelo, filho de João Lopes Perestrelo, e de Mouzinho de Albuquerque, militar morto em 1846 na batalha de Torres Vedras, sob o púlpito.

A igreja está classificada como Monumento Nacional desde 1910.

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Horário

  • Terça a domingo, das 10h00 às 18h00

Igreja de Santiago

A Igreja de Santiago resulta da reconstrução quinhentista de um edifício primitivo, tendo sofrido ainda várias obras de remodelação, nomeadamente no século XVIII, provavelmente exigidas pela ação danosa das cheias do rio Sizandro, que durante o Inverno inundavam a parte baixa da vila. Da primeira campanha de Quinhentos restam alguns janelões, contrafortes e o portal principal, de arquivoltas redondas inteiramente cobertas por lavores Manuelinos. Na fachada, datada da remodelação mais tardia, rasga-se ainda uma janela de verga reta encimada por óculo redondo, a eixo com o referido portal. Divide-se em três panos, sendo o central rematado por frontão circular com cornija contracurvada, e o direito constituindo o corpo da sineira, vazada por frestas redondas. 

O interior é coberto por abóbada de berço de caixotões na nave, única e muito larga, e abóbada de cruzaria simples na capela-mor, sendo esta revestida com grandes silhares de azulejos setecentistas. Aí se encontra um retábulo de talha, com colunas salomónicas, assente sobre friso de mármores embutidos. Do acervo da Igreja de Santiago, hoje bastante reduzido, destaca-se a pia batismal, semelhante à da Igreja de Santa Maria do Castelo, e a escada de caracol do coro alto, em pedra, ambos do século XVI. O cadeiral do coro constitui um bom exemplar de talha maneirista, datado de 1634, e coevo do interessante púlpito de mármore que enriquece a nave. Refira-se, por fim, o conjunto de pinturas murais descobertas na década de oitenta do século XX, cobrindo o teto da igreja, e até então tapadas por uma camada de estuque.

Apresenta uma fachada em estilo manuelino e uma torre sineira. 

A igreja original terá provavelmente sido construída no reinado de D. Afonso Henriques, sendo referida num documento existente na Torre do Tombo, datado de 1286. Pelo seu livro de visitas, sabe-se que em 1586 se encontrava bastante arruinada, pelo que se procedeu pouco depois à sua reconstrução, que viria a ser terminada em 1615.

Em consequência do terramoto de 1755, sofreu apenas algumas fendas.

O interior da igreja não é visitável.


Igreja de Nossa Senhora da Misericórdia

Situada na Rua Serpa Pinto (antiga Rua do Espírito Santo), a Igreja da Misericórdia é porventura a mais bela e valiosa das igrejas da Cidade. Integra-se num conjunto de edifícios da Santa Casa da Misericórdia de Torres Vedras, onde funcionaram o Hospital da Misericórdia (antigo Hospital do Santo Espírito) e a sede daquela instituição. Foi construída entre 1681 e 1710, para substituir a igreja do antigo Hospital do Santo Espírito, que lhe era contígua, e que se encontrava já muito arruinada.

Antecede a igreja um pequeno adro delimitado por gradeamento, onde, até 1849, altura em que se criou um cemitério a Norte da igreja, eram sepultados os doentes pobres que faleciam no antigo hospital.

O portal é encimado por duas aletas concheadas, com as armas reais. A porta está datada de 1718 e o guarda-vento é de 1853.

A igreja, barroca, é pequena mas muito ampla. Possui uma só nave, coberta em abóbada de berço, onde figuram as armas reais portuguesas (de D. João V), com a Comenda da Ordem de Cristo.

As paredes são decoradas com silhares de azulejos do século XVII, de iconografia profana, onde figuram cartelas com extratos de textos do Antigo Testamento, nomeadamente do Eclesiástico e do Cântico dos Cânticos, exaltando Maria: "quasi aurora consurgens” (surge como a alva do dia), “pulchra ut luna” (formosa como a lua) “electa ut sol” (brilhante como o sol), “quasi cedrus exaltata sum in Libano” (elevei-me como o cedro do Líbano), “et quasi cypressus in Monte Sion” (e como o cipreste do Monte Sião), “quasi palma exaltata sum in Cades” (cresci como a palmeira de Cades), “quasi plantatio rosue in Jericho” (como as roseiras de Jericó), “quasi oliva speciosa in campis” (como uma formosa oliveira nos campos).

Do lado direito da nave situa-se o púlpito, de talha dourada e pintada, sobre peanha de mármore rosa, sustentado pelo atlante representado nos azulejos, numa perfeita integração entre a decoração azulejar e a arquitetura do edifício. Do lado esquerdo, pode ver-se o cadeiral dos mesários da Santa Casa da Misericórdia. Sobre a porta de acesso ao coro, um pequeno balcão, com guarda de ferro forjado, fazia sacada do hospital para o interior da igreja, para os doentes poderem assistir à missa.

Sobre a porta principal fica o coro alto, sustentado por duas colunas jónicas, assentes em altos socos, cada uma com uma pia de água benta de mármore, em forma de concha.

No coro alto existe um pequeno cadeiral, encimado por uma tela representando A Última Ceia. O coro está unido a uma mísula, onde se encontra um órgão positivo, de oito registos e um teclado. O coro-alto constitui uma notável obra de carpintaria, sendo de realçar a talha dourada e pintada da sua base, nomeadamente as armas reais sobre o guarda-vento. 

A capela-mor encontra-se sobrelevada em relação ao corpo da igreja, sendo delimitada por uma escadaria de mármore com belíssimas guardas recortadas, e uma teia de torcidos, de pau-preto. Tanto a teia como o uso de mármores são característicos do século XVII. Sob a capela-mor existem três carneiros subterrâneos (capelas funerárias), que comunicam entre si.

O altar-mor e os dois altares colaterais situam-se no mesmo plano, embutidos numa capela-mor magnificamente revestida a mármore. A talha dourada dos altares, talvez já do início do século XVIII, é de extraordinária qualidade, especialmente a do altar-mor, com colunas e arcos torsos. Este altar é dedicado a Nossa Senhora da Misericórdia, cuja imagem, com o menino ao colo, se encontra sobre o trono. Neste altar está colocado o sacrário de talha dourada, idêntico ao da Igreja de Nossa Senhora da Graça, embora mais pequeno.

Ainda no altar-mor existe um esconderijo, onde a misericórdia acolheu os patuleias vencidos na batalha de Torres Vedras, em 1846. Os altares colaterais são dedicados a Santo Cristo (o da esquerda) e a Santo António (o da direita). Merece realce a imagem de Cristo Morto, no altar de Santo Cristo. Os três altares possuem notáveis e raros frontais de couro pintado e lavrado (guadamecis), do século XVIII, que foram retirados para restauro, deixando à vista a pintura original de têmpera, sobre a madeira.

No cruzeiro, o chão é em mármore axadrezado, preto, branco e rosa. As paredes são decoradas por dois grandes painéis de azulejos, representando Nossa Senhora da Piedade, na Deposição da Cruz, e Nossa Senhora da Misericórdia. Do lado da Epístola (direita), sobre a porta de acesso ao púlpito, pode ver-se um pequeno painel de azulejos, com efeito trompe l’oeil (ilusão de ótica), imitando o motivo em mármore, à sua frente. Do lado do Evangelho (esquerda), um outro painel de azulejos representa uma porta, fazendo par com a do lado direito, também em trompe l‘oeil.

A igreja está ligada à sacristia por uma curiosa passagem sob o trono do altar, formando um corredor, decorado, tal como a sacristia, por painéis de azulejos com motivos profanos e rodapés imitando marmoreados.

A sacristia foi mandada construir em 1752, pelo provedor Nuno da Silva Teles, segundo a inscrição na placa de talha dourada, com as armas da casa de Alegrete. Nela se destaca o monumental arcaz setecentista, em pau-santo do Brasil, com espaldar recortado e dourado, onde figura um bom crucifixo. O teto apresenta aplicações de talha dourada, nomeadamente as armas reais, e chão, tal corno no cruzeiro, é em mármore axadrezado. Defronte do arcaz pode ver-se uma elegante mesa de mármore, com pé de balaústre, sobre a qual se encontra um baldaquino de talha dourada, de estilo rocaille, que abriga a imagem do Sagrado Coração de Jesus’ e urna pintura da custódia, sobreposta ao azulejo. Do lado direito, num pequeno altar de mármore, figura uma Visitação, atribuída a Bernardo de Oliveira Góis, autor das pinturas do teto da sala da Irmandade dos Clérigos Pobres, na igreja de S. Pedro. Notável é ainda a imagem de Cristo Morto, do século XVII.

Na ante-sacristia merece particular realce o grande lavabo de mármore, com as suas torneiras em forma de animais marinhos míticos.

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Horário

  • Terça a domingo, das 10h00 às 18h00

Convento do Barro

O Convento dos Religiosos Arrábidos, conhecido como Convento do Barro, foi fundado em 1570, pela Infanta D. Maria, filha do Rei D. Manuel, para acolher monges franciscanos.

Em 1834, o convento foi extinto e expropriado, tendo reaberto em 1860. Com a implantação da República em Portugal foi definitivamente encerrado enquanto convento, passando a denominar-se Asilo Elias Garcia. O ato inaugural foi presidido por Teófilo Braga.

No espaço exterior existe um monumento de devoção à Excelsa Mãe de Deus, edificado em 1908, por ocasião das comemorações dos 50 anos da aparição da Virgem Imaculada em Lourdes. Nas imediações do convento localiza-se a capela de São José, erigida no século XVI.

No início do século XX, o Asilo assumiu um papel importante no combate ao flagelo da tuberculose, tendo sido confiado à Assistência Nacional aos Tuberculosos, na segunda metade do século. Em 1956, é nomeado para diretor clínico do sanatório o Dr. José Maria Antunes Júnior. A partir de 1956, os serviços gerais do Asilo passam a ser assegurados por freiras, possibilitando o internamento dos doentes. Esta situação manteve-se até 1992, ano em que as religiosas deixaram de prestar serviço hospitalar. Em 1993, o Sanatório do Barro passou a ser designado de Hospital Dr. José Maria Antunes Júnior, alargando a sua ação terapêutica ao tratamento de doenças da área da pneumologia.


Convento de Santo António do Varatojo

Situado nos arredores de Torres Vedras o convento foi fundado por D. Afonso V, cerca de 1470. Foi residência de reis e chamavam-lhe casa de regalo.

Os primeiros religiosos da Ordem de S. Francisco foram recebidos em 1474. Começou por ser Convento de Estudos Franciscanos, sendo mais tarde Colégio de Missionários Apostólicos, por cedência de D. Pedro II a Frei António das Chagas.

No acesso principal, uma escada bifurcada, forrada com painéis de azulejo, conduz ao átrio da igreja. À sua direita está uma janela gótica. A porta de igreja é de traça de arquivolta ogival e colunelos com máscaras e motivos vegetalistas. Sobre a direita da fachada está o rodízio de tirar água, em baixo relevo na pedra, símbolo de D. Afonso V, cercado pela corda dos franciscanos. 
Logo no átrio, sobre o lado esquerdo, em correspondência com a frente da igreja encontra-se a capela dedicada a Nossa Sr.ª do Sobreiro, que deve a sua designação ao facto de ter sido descoberta na cavidade de um sobreiro. Esta capela de grande esplendor pela talha, ouro e mármores, colunas de fuste, imitando o lápis-lazúli, e o magnífico oratório, onde pode observar a imagem da Senhora sentada com o Menino sobre o braço esquerdo, apresenta-se como uma peça de arte.

A igreja é de uma só nave. Na capela-mor, mandada edificar pela rainha D. Catarina, podemos admirar o teto em abóboda de berço com caixotões, e, as suas paredes revestidas de azulejos do século XVIII que evocam cenas da vida de Stº António. Toda a capela é de uma riqueza monumental pelo retábulo de talha barroca, branca e dourada, colunas salomónicas decoradas com anjos e aves e o excelente trabalho de mármores embutidos no altar.
O claustro tem dois pisos. O térreo com arcos ogivais assentes em elegantes colunas chanfradas e o teto decorado com o rodízio de D. Afonso V.
Num dos cantos do Claustro observe a porta Manuelina, de arco trilobado, com florões, gablete de três arquivoltas e colunelos, que dá acesso ao mausoléu da família Soares de Alarcão, alcaides-mor de Torres Vedras.

O convento tem uma mata muito larga e densa, com abundância de todo o género de frutas, por se situar em terreno fértil e com muita água, e onde existem espécies primitivas do coberto vegetal pré-histórico.

Está classificado pelo Decreto de 16-06-1910; Diário do Governo n.º 136, de 23-06-1910.


Igreja e Convento de Nossa Senhora da Graça

O Convento de Nossa Senhora da Graça foi mandado construir no século XVI (1544 - 1580) pelos frades eremitas calçados de Santo Agostinho (ou gracianos), para substituir o anterior edifício — fundado em 1266 —, situado na zona baixa de Torres Vedras, devido às constantes inundações que este sofria, com as cheias do Rio Sizandro. 

O edifício, de enormes e majestosas proporções, possui uma estrutura conventual quinhentista centrada num amplo claustro, para o qual se abrem as áreas de culto (igreja conventual, cemitério coberto, sacristia e ante-sacristia) e de clausura (portaria, biblioteca, sala do capítulo, ala poente, celas, gafaria, refeitório, cozinha e celeiro). 

É um edifício tipicamente maneirista. Na parede exterior perfilam-se grossos contrafortes decorados, terminando em gárgulas.

A igreja é precedida por uma ampla galilé, revestida com silhares de azulejos de albarradas, do século XVIII, a que dão acesso arcos de volta perfeita. A porta principal é datada de 1733.

A portaria do antigo convento é decorada com painéis de azulejos de excelente execução, de 1725, representando cenas da vida de S. Gonçalo de Lagos, prior do primeiro convento agostiniano da vila. Estes azulejos, tal como os do claustro, do cemitério, da sacristia e da ante-sacristia, estão atribuídos ao notável mestre monogramista P.M.P.

A rica composição do emolduramento barroco é bastante original. 

No claustro, os azulejos, representativos do “ciclo dos mestres”, ilustram a vida de D. Frei Aleixo de Menezes (1559 - 1617), constituindo provavelmente, o maior conjunto de azulejos historiados do século XVIII, com uma narrativa única, de todo o pais. D. Aleixo promoveu muito as obras deste convento, de que foi prior em 1588 e durante três anos. Posteriormente foi Arcebispo de Gôa, Arcebispo de Braga, Governador da Índia, Vice-rei de Portugal, Presidente do Conselho Supremo do Reino e Capelão-mor de Filipe II. Durante a sua passagem pelo convento escreveu uma biografia sobre S. Gonçalo de Lagos.

A igreja possui uma só nave, ampla e clara, coberta com abóbada de berço. 

Na capela-mor admira-se um monumental retábulo de talha dourada, do começo do século XVI, com colunas de fustes canelados e capitéis coríntios, com as imagens de Nossa Senhora da Graça e dos fundadores da Ordem Agostiniana, Santo Agostinho e Santa Mónica. Encimam o altar as armas da Ordem. Notáveis são as esculturas de madeira, particularmente as duas imagens-relicário, de grandes dimensões, representando Santa Gertrudes Magna e Santa Francisca Romana, obras características do século XVII, com um brilhantíssimo tratamento plástico das roupagens. Na parede do lado direito abre-se um nicho que alberga o túmulo de S. Gonçalo de Lagos, curiosa arca com a imagem jacente do santo, na tampa. Os restos mortais de S. Gonçalo de Lagos (1375 - 1422), padroeiro de Torres Vedras desde 1495, foram transferidos do antigo convento para o atual edifício, em 1559. A capela-mor foi mandada fazer por Jerónimo da Rocha Soares, como consta da inscrição e do brasão de armas que se veem à esquerda.

No corpo da igreja abrem-se oito capelas laterais. As primeiras albergam os altares colaterais: o da esquerda, mandado fazer por António Godinho da Cunha e sua mulher, cujas armas figuram numa larga inscrição, na parede, é dedicado a S. Nicolau Tolentino; o da direita, mandado fazer por Maria Cabreira e seu irmão, como também se lê na inscrição, de 1638, é dedicado a Cristo Crucificado. De cada um dos lados da nave abrem-se mais três capelas laterais, que comunicam entre si. Do lado do Evangelho (esquerda), a primeira é a do Senhor dos Passos, com as imagens do dito e de Nossa Senhora das Dores, altar de mármores embutidos e azulejos setecentistas, representando cenas da Paixão. Segue-se o altar de Santa Rita de Cássia, um dos mais notáveis altares da igreja, do barroco pleno, com magníficas imagens da santa, de S. José com o menino e de um bispo.

A última capela é dedicada a S. Gonçalo de Lagos e possui uma muito boa imagem do santo — terá sido mandada fazer por D. Pedro III —, a arca com as suas relíquias e as imagens de Santo António e da Rainha Santa Isabel. Do lado da Epístola (direita), a primeira capela é dedicada à Senhora da Natividade e possui um retábulo maneirista, de talha policromada, com duplas colunas com capitéis coríntios, provavelmente de 1644, considerando a pedra de armas e a inscrição colocada à direita, na qual se lê que foi mandada edificar por Maria Serrão Borges, para nela ser sepultada com seu marido. A segunda é a da Senhora da Correia, também de muito boa talha dourada. E, finalmente, a capela da Senhora das Dores, que apresenta a imagem da dita e as de Santa Catarina e de São Pedro de Alcântara.

A nave é decorada por silhares de azulejos polícromos do tipo tapete, do século XVII, e por dois púlpitos de talha, com baldaquino, do século XVIII, época dos principais melhoramentos. Destaca-se, ainda, uma extraordinária imagem indo-europeia, de marfim, representando o Menino Jesus Bom Pastor, que pode ser vista no Museu de Torres Vedras. No coro, uma magnífica mísula de talha dourada e policromada, joanina, albergava um notável órgão.

No cemitério dos frades, na sacristia e na ante-sacristia, as paredes são também completamente revestidas com azulejos do mesmo tipo dos do claustro, com o mesmo esquema decorativo e com motivos figurados, representando a hagiografia dos notáveis da Ordem Agostiniana. Sob o lavabo da ante-sacristia, figura, em cronograma, a data de 1725, que data todo o conjunto azulejar.

No antigo convento instituiu o Cardeal Patriarca a disciplina de moral, para instrução do clero. Aqui havia mestres de ler, escrever, contar e de gramática latina, pagos pelo Estado. Muitas das suas rendas eram para os pobres e os frades ensinavam gratuitamente o povo. Outro papel importante do convento residia na assistência social e nos cuidados de saúde que prestava, já que aí estabeleceram os frades um hospital de gafos, na sequência da primitiva gafaria existente no local, onde tratavam os leprosos da região.

Em 1834, com a extinção das Ordens Religiosas, a igreja foi doada à Irmandade do Senhor dos Passos, sendo o extinto convento adquirido pela Câmara Municipal, em 1887, para nele instalar diversos serviços. O conjunto formado pela igreja e convento encontra-se classificado como Imóvel de Interesse Público.


Judiaria de Torres Vedras

Contemplada na Rede Nacional de Judiarias, a cidade de Torres Vedras testemunha a presença de judeus quando recuamos ao reinado de D. Afonso III (1248-1279), apesar da primeira referência à vivência em casas contíguas de membros da comunidade, em bairro próprio, datar de finais do século XIII. Todavia, a constituição da judiaria, com foros e privilégios, teve lugar apenas no reinado de D. Afonso IV (1325-1357) que obrigara os judeus da vila a morarem em bairro próprio. Data também do reinado de D. Afonso III a sinagoga, atestada pela referência ao “capelão” dos judeus. A Judiaria torriense ocupava uma só rua (no sítio da atual rua dos Celeiros de Santa Maria) onde, no início, conviviam homens das duas religiões. Em 1381, vinte e cinco famílias judaicas habitavam a Vila de Torres Vedras, multiplicando-se o seu número a partir do século XV, com uma intensa atividade comercial. O aumento da comunidade obrigou à ampliação do território da Judiaria, em 1469, estendendo-se à totalidade da rua.

É natural de Torres Vedras a família judaica Guedelha - Isaac Guedelha e D. Judas Guedelha, rabi-mor de D. Dinis e provável irmão de Salomão Guedelha, o rabi dos judeus em Torres Vedras, em 1318. A D. Judas Guedelha sucedeu seu filho D. Guedelha, em 1316, no arrabiado régio.


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