Agenda
Eu Sei Tudo
Exposição de Escultura de João Castro Silva
Até 10 de abril 2014
Evento já ocorrido
"Trata-se de um grupo de 5 esculturas de grandes dimensões que comunicam entre si e que, simultaneamente, parece pretenderem comunicar connosco, desejarem que decifremos uma mensagem qualquer. Funcionam individualmente como signos à procura de uma frase, na expectativa de articular uma mensagem que seja percetível, como se fossem conscientes que a sua própria natureza reside nessa função.
O que parece é que estas obras se puseram a encenar um discurso que elas próprias criaram, e que deixou de pertencer ao criador. O que parece é que, o que quer que elas se ponham a comunicar, o discurso pertence-lhes; tem vida própria e autonomia e libertou-se de qualquer suporte conhecido, para se pôr a existir com uma determinação e uma força que não sustenta qualquer dúvida sobre a sua própria capacidade de entendimento.
Perante o público, as obras que integram este projeto invocam todas as dúvidas e propõem esta conquista: a possibilidade de continuar a questionar-se. E é impossível não estabelecer uma relação com o conjunto, impossível não procurar decifrar o código, como num jogo. Trata-se, de resto, de um jogo a dois níveis: porque há o discurso do autor que é anterior à forma encontrada para veicular, e há também, neste caso, o discurso que a própria forma concebe, projeta, articula.
As obras de João Castro Silva colocam-se em relação. Antes de mais na relação com público e com o espaço, e com o outro e com o mundo por todos os poros. É uma obra profundamente humana até onde a interrogação fundamental a atormenta. E duma imensa coragem, até onde expõe a sua intensa fragilidade, tanto mais impressionante quanto mais se ilude em dimensões e volumes exagerados, nos quais, ironicamente parece que aumentam também as dúvidas essenciais.
Sempre me pareceu que a matéria maior dos trabalhos de João Castro Silva, é a inquietação. E esta inquietação é muito mais assustadora nestas obras de grandes dimensões. Porque há o peso e a força da matéria real a afirmar a impotência e o espanto de não haver resposta. Toda a afirmação é uma pergunta.
Curiosamente, o tamanho destes trabalhos não nos inibe no nosso tamanho, como lhes seria possível. Eles impressionam pelo volume de fragilidade de transportam e com o qual nos confrontam. Eles assumem a sua imensa fragilidade com uma certeza e uma coragem invulgares e que convocam, da nossa parte, uma exposição igual.
Há ainda que falar da matéria: a madeira, cheia de fugas por onde passam os sentidos e os olhares todos de quem alguma vez olhou e se deixou ficar.
A madeira, e em particular a forma como João Castro Silva a trabalha e lhe permite expor-se, manter-se verdadeira sendo outra coisa qualquer, tornar-se caminho. Ser crua e vadia com a mesma imponente fragilidade de ser inteira. Como se fosse em processo, tivesse sido apenas deslocada de si para servir um percurso e não uma finalidade, ou seja, para ser ela própria signo, discurso, sentido de uma forma com a qual se relaciona numa harmonia e equilíbrio sublimes na sua precariedade.
Às vezes penso que há sabedorias que estas peças guardam, sim. E se se deixar escutar pode ouvir-se isto: Eu Sei Tudo. E acreditar."
Ana Castro
Consulte o CV de João Castro Silva
Atividade Gratuita