Torres Vedras

Carlos Miguel

01.03.2011

Carlos Miguel, presidente da Câmara Municipal de Torres Vedras

Na primeira edição da revista Torres Vedras recaiu sobre o presidente da câmara municipal a opção de entrevista. Há cerca de sete anos à frente dos destinos do Município, Carlos Miguel efectuou um balanço do trabalho efectuado até agora em prol do mesmo, tendo também perspectivado a futura acção da equipa que dirige. Nesta entrevista o actual líder do executivo municipal aproveitou ainda para falar de outros assuntos, como o seu percurso pessoal e profissional, a evolução do concelho e a “fibra” dos torrienses… 

 

Como habitante de Torres Vedras desde que nasceu, como tem visto a evolução da cidade e do seu concelho?

Quem está muito próximo, por vezes tem dificuldade em ver e eu tenho estado sempre muito próximo de Torres Vedras.

Mesmo sendo próximo e parcial, julgo que Torres Vedras tem evoluído de forma equilibrada, em que a vida citadina e a ruralidade convivem muito bem, com qualidade de vida, boa distribuição geográfica dos equipamentos e uma grande capacidade empreendedora da população.

 

O que o levou a investir os últimos anos no projeto Município de Torres Vedras?

A convite do dr. José Augusto de Carvalho, como independente, integrei as listas do PS à Assembleia Municipal em 1986 e quando, em 2001, o dr. Jacinto Leandro desafiou-me a integrar a sua lista ao executivo da Câmara Municipal, tive de tomar uma decisão de alteração radical na minha vida pessoal e profissional, sabia que era um grande e novo desafio.

Rapidamente aceitei o convite e o desafio, convicto que conseguia acrescentar alguma coisa à minha terra, a Torres Vedras.

Ter aceite, foi querer fazer, foi querer deixar obra, foi querer acrescentar mais-valia.

 

A sua formação académica e profissional, enquanto advogado, tem sido uma mais valia para as funções que atualmente desempenha?

Enquanto advogado, sempre tive uma forte ligação às empresas e sempre fui um “advogado de barra”, isto é, de fazer Tribunal, de fazer julgamentos diariamente e essa prática de mediar conflitos, de procurar convergências, de aprender com a experiência dos outros, de lutar por uma causa tem-me ajudado muito enquanto presidente da câmara.

 

E o seu percurso na vida associativa local?

Desde miúdo sempre tive uma ligação próxima do associativismo e permitam-me que enalteça três dessas experiências: os Escuteiros, enquanto miúdo, pelo trabalho de equipa, o vencer metas em conjunto, a capacidade de desenrasque e o sentido de orientação; a Associação de Defesa do Património pela descoberta da identidade coletiva e a importância em legar aos vindouros o que nos foi legado pelos que nos antecederam; e a Física, quando jovem atleta, pelos valores humanos incutidos pelos seus dirigentes e treinadores, dos quais permitam-me que destaque dois deles, o sr. Fausto Rodrigues e o dr. Vitor Guerreiro, e mais recentemente, enquanto dirigente, fazendo parte de uma equipa inexcedível a gerir a ausência de recursos financeiros, a mobilizar recursos e a fazer e deixar obra, numa verdadeira e enorme experiência de vida.

Para além destas, não me esqueço dos Bombeiros Voluntários, do Torreense, do Grémio, da Cooperativa de Comunicação e Cultura, da Radioeste, da APECI e de tantas outras que formam o nosso quotidiano e a nossa memória coletiva.

 

Que balanço faz do trabalho que realizou até agora em prol do município, tanto como membro da assembleia municipal, como membro do executivo municipal?

Ser membro da assembleia municipal e ser membro da câmara municipal, a única coisa que tem em comum é Torres Vedras, porque tudo o mais é diferente.

O balanço terá que ser feito por aqueles para os quais nos propusemos trabalhar, isto é, os torrienses mas, o que posso dizer, é que tem sido uma vida cheia, com inúmeros desafios, alguns momentos de desânimo, sem dúvida, mas inúmeros momentos de grande satisfação e felicidade.

Temos procurado sempre o equilíbrio e julgo que temos conseguido.

 

Quais são as linhas-mestras da ação do executivo municipal, o qual atualmente preside?

Torres Vedras é uma pluralidade de interesses e realidades que importa equacionar.

Somos turismo mas também agricultura, somos indústria mas também comércio, somos cidade mas também campo e é nestas dicotomias que temos de procurar uma gestão equilibrada.

O nosso principal propósito é sempre o de proporcionar melhor qualidade de vida e mais futuro àqueles que aqui vivem ou residem.

Para tanto temos de ter equipamentos públicos funcionais em todas as freguesias, seja ao nível do ensino, como nos espaços públicos, espaços verdes, equipamentos desportivos e apoio social.

Da mesma forma temos de ter um conjunto de serviços que dê boa resposta aos cidadãos, nomeadamente aos mais novos e aos mais velhos, sempre em estreita colaboração com as associações e IPSS.

A requalificação da nossa costa atlântica e as questões ambientais continuam a ser prioritárias.

Por último a cultura, sua programação e projetos de novos equipamentos que contribuam para uma melhor identidade e afirmação torriense, são um dos desafios mais aliciantes para o futuro.

 

As restrições orçamentais que estão a ser impostas às autarquias colocam entraves graves à ação do município?

O problema não é as restrições governamentais que representam, sensivelmente, um milhão de euros ano. O verdadeiro problema é a quebra de receitas próprias ao nível das Taxas de Urbanismo e do IMI que representa um declínio de sete milhões de euros por ano.

Esta quebra nas receitas vai levar-nos a ter de adiar alguns dos investimentos que tínhamos previsto para este mandato.

 

A descentralização do poder que se assistiu a seguir ao 25 de Abril deve para si prosseguir?

A descentralização tem de mudar de paradigma.

Verifica-se que o Estado passa para as câmaras o que não consegue fazer ou faz mal feito.

Isto não é descentralizar, isto é descarregar.

Por exemplo, ao nível da educação, o Estado descarregou nas câmaras municipais os edifícios das escolas, sua manutenção e recuperação, mas não a gestão do próprio ensino do 1º Ciclo, onde cada município deveria criar uma oferta identitária, ofertas específicas e alternativas dentro de uma base curricular comum.

Hoje estamos confinados a ser os “encarregados de obra” do ministério da educação e isso não é descentralização.

 

Os torrienses estão na sua opinião a aderir ao projeto de desenvolvimento do município?

Se há em Portugal população ativa, empreendedora, dinâmica e justa é a de Torres Vedras.

Daí que a câmara municipal se esforce para estar sempre ao lado da sua população.

 

A reação dos torrienses à intempérie de dezembro de 2009 foi uma boa demonstração da sua fibra e a vontade de enfrentar as contrariedades…

O que nos aconteceu em dezembro de 2009 é o exemplo do que acabei de dizer.

Naqueles dias, numa das reuniões dos agricultores com o sr. ministro da agricultura, um empresário torriense dizia para o sr. ministro: “…nós andamos sempre à frente dos papéis”.

Esta imagem espelha bem o sentir e o fazer desta nossa gente, isto é, antes dos formulários preenchidos, das vistorias realizadas e das candidaturas apresentadas, já as obras de recuperação decorriam.

Hoje, o potencial produtivo está reposto, os agricultores tiveram a felicidade e o saber de terem feito uma boa colheita e a área de produção já é maior que a existente antes da intempérie.

 

 

Quando um dia deixar de presidir à câmara municipal, que projetos pessoais e políticos pensa abraçar?

Não pensei muito nisso, na certeza que o exercício de um cargo político é sempre uma “comissão de serviço” e a motivação para tal é Torres Vedras e/ou Oeste.

Fora do quadro político e logo que acabe a “comissão de serviço”, continuo a ter uma “enxada” que é a advocacia e com ela hei de trabalhar.

 

Considera Torres Vedras um bom lugar para viver? Não existe o perigo de se tornar subúrbio de Lisboa?

Sempre vivi em Torres Vedras e os cinco anos que estive em Lisboa a estudar foram os piores para mim, por isso eu acho, porque sempre achei que Torres Vedras é ótimo para viver, dada a sua dimensão, localização e envolvência.

Por uma série de fatores, Torres Vedras nunca será um subúrbio de Lisboa, pois desde sempre vivemos para Lisboa e com Lisboa, mas nunca deixámos de ser Torrienses e de Torres Vedras.

Já repararam que ninguém é de Lisboa?!

Mesmo os que ali nasceram, são de Marvila ou de Alvalade, alguns de Alfama ou de Alcântara, mas nenhum é de Lisboa.

Temos uma identidade muito forte e uma vida social, cultural e económica distinta e própria.

Somos Torrienses.

Como costuma dizer, com graça, o nosso amigo dr. Alberto Avelino, nós temos muita “cagança” em ser de Torres Vedras e isso não se extinguirá.

Entrevista extraída da edição nº1 (março/abril de 2011) da revista municipal [Torres Vedras]

Última atualização: 13.08.2019 - 12:50 horas
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