Espaços de jogo e recreio: trepar e saltar também é aprender
23.11.2021
Ao longo das décadas, os espaços exteriores dos estabelecimentos de ensino consolidaram-se no formato que todos nós conhecemos, onde muitos travaram as primeiras amizades e ganharam, sem se aperceber, as primeiras competências humanas.
No entanto, as necessidades das crianças e jovens de hoje não são as mesmas de outras décadas. Se os espaços de jogo e recreio eram pouco naturais e desafiantes, hoje sabemos que devem potenciar mais experiências motoras e cognitivas, assumindo-se como espaços de aprendizagem complementares às salas de aula. Nos estabelecimentos de ensino que têm vindo a ser construídos no concelho de Torres Vedras, os mais pequenos encontram agora espaços exteriores que promovem a brincadeira em liberdade, com desafios à atividade física e motora com fatores de risco controlado.
Entre os blocos de aulas, os alunos das escolas básicas do Turcifal e de Póvoa de Penafirme (que entraram em funcionamento este ano letivo) contam com espaços de jogo e recreio em relva, onde as inclinações do piso, um muro e um túnel convidam a trepar, saltar e esconder — um exercício constante de superação do medo, cooperação e reinvenção diária.
Aqui, os brinquedos são tão distintos como pneus e trotinetas, objetos soltos que todos os dias podem ser utilizados de forma diferente, apelando à liberdade, criatividade e capacidade de reinventar espaços e brincadeiras. Isto sem esquecer as “cozinhas de lama”, onde as crianças contactam com elementos naturais como a terra e a água (e, consequentemente, com a lama propriamente dita).
Recentemente, as crianças da Escola Básica Padre Francisco Soares passaram a contar com um novo espaço de jogo e recreio, num processo ainda em desenvolvimento que resulta da participação de toda a comunidade escolar — especialmente das crianças, que partilharam como gostariam que fosse o recreio da sua escola.
Também a Escola Básica Gaspar Campello irá passar por este processo, partindo de uma proposta de intervenção de uma equipa da Faculdade de Motricidade Humana da Universidade de Lisboa que será discutida com a comunidade educativa.
Esta reinvenção chegará, ainda, às escolas básicas de São Pedro da Cadeira e de Boavista-Olheiros, onde os espaços serão ampliados e qualificados, passando a contar com novos equipamentos e a proporcionar o contacto com a terra e com as árvores.
Em causa estão espaços de jogo e recreio que convidam à exploração do outro e de si mesmo em liberdade e que se assumem como pequenos “tubos de ensaio” para a vida lá fora. Uma vida com menos sintético e mais natural. Menos paredes, mais exterior. Menos ambientes controlados, mais liberdade em segurança.
Rita Santos