Torres Vedras

José Pedro Sobreiro

01.09.2018

José Pedro Sobreiro

“Quando tiver um grupo de trabalhos interessante, exponho.” Era com a tranquilidade e “vagar” próprios de quem se reformou da profissão de professor de Educação Visual que José Pedro Sobreiro encarava o processo de preparação de Aprendiz do Tempo. A exposição, patente na Paços – Galeria Municipal de Torres Vedras até 21 de outubro, é o resultado natural de um trabalho feito ao longo dos últimos 10 anos. “Uma exposição pensada com muito tempo”, já que a carreira no ensino e a vida sempre ligada à cultura e ao associativismo faziam com que tivesse menos tempo para criar. “A pintura também se ressentiu um bocadinho, porque isto precisa de uma entrega.”

O exercício de “observar uma parede desgastada que contém esses sinais do tempo, esses níveis sobrepostos, essas camadas” permitia registos ocasionais que colecionava desde jovem. “E isso quase se pode interpretar como uma metáfora da própria vida. Nós temos fases, temos sentimentos, passamos por experiências… Algumas vão permanecendo mais e outras vão um bocadinho à vida, não é?”

A novidade não reside propriamente no conceito, mas no facto de este se assumir como aposta exclusiva para a exposição. “Olhar para as coisas mais improváveis e retirar delas virtualidades estéticas, plásticas… Isso é muito antigo.” Numa rápida retrospetiva feita durante uma pausa na preparação da mostra, José Pedro Sobreiro, formado em Pintura pela Escola Superior de Belas Artes de Lisboa, evoca trabalhos que deram origem a exposições mais objetivas como, por exemplo, as que se focavam no património local, e outras em que a carga simbólica dominava. Experiências “aparentemente muito diferentes na temática” mas que “em termos plásticos têm sempre alguma coisa a ver umas com as outras.” Pelo menos, salvaguarda, “gosto de pensar que sim, que há sempre uma unidade a percorrer essas diferenças.”

Ao olhar para o seu percurso, acaba por ver a base que deu origem aos trabalhos que agora expõe. “Basicamente é a minha experiência de anos a olhar para os registos parietais, para as paredes velhas dos centros históricos, e ficar surpreendido com qualquer coisa que via.” Formas, texturas e cores a que se “agarrou” para passar dos registos fotográficos para o trabalho plástico. “É aquilo que eu vejo e que depois transponho para o quadro.” Segue-se o processo de “desenhar, recortar, colar, ‘desbundar’ - como se costuma dizer -, de meter estes materiais todos para cima e ver no que é que aquilo dá.” Há outros registos, no entanto, que são praticamente imaginados. “Estou a olhar por exemplo para aquele” diz, enquanto aponta para uma das 25 obras que dão forma à exposição. “Aquilo é uma memória que eu tenho de alguma coisa que vi quando tinha uns 22 ou 23 anos em Lisboa”, explica. “E ficou-me aquela forma na cabeça.”

Através dos seus últimos trabalhos, José Pedro Sobreiro acaba por fazer o convite para uma viagem. “De facto, é como se eu me posicionasse perante o grande tempo, perante a noção de tempo dilatado. O tempo de uma vida, em que constatamos aquilo que fica, que permanece, e aquilo que passa, que o tempo leva.” Afinal, “aprendizes do tempo somos todos, não é? Ou tentamos ser…”

Última atualização: 12.09.2018 - 17:05 horas
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