O chafariz dos canos
01.01.2013
A primeira referência ao Chafariz dos Canos data de 1322, quando o mosteiro de Santa Maria de Alcobaça doou uma soma de dinheiro a um homem para a construção dos ‘canos da agoa que vem pera a villa’ de Torres Vedras. A sua construção deve-se ao patrocínio do rei D. Dinis (1279-1325), como parecem atestar os representantes da vila e termo de Torres Vedras, Fernam d’Alvarez e João Gil, no pedido que dirigem, anos mais tarde, a D. Afonso V, nas Cortes de Lisboa de 1459, registados nos capítulos especiais: «…Senhor, em esta vila há edificios de canos por que vem água a um chafariz que está na dita vila, que os reis que Deus tem, com ajuda dos moradores dela fizeram». Nesta altura, já o chafariz dos canos se encontrava em ruínas, a necessitar de reparação, porque a água já não chegava à vila “por bem dos canos que ham mester grande repairo”.
No século XVI, a fonte e os canos conheceriam novo restauro, de iniciativa da Infante D. Maria, filha de D. Manuel e Senhora de Torres Vedras, em 1561. Para além da inscrição, com a referida data, D. Maria não deixou de exibir o poder que tinha, mandando colocar as suas armas em cada uma das ameias chanfradas que elevariam, nesta intervenção, o chafariz.
Mas para a boa conservação do edifício contribuíam as regulares operações de limpeza e de pedreiro dos canos e chafariz. Desde pelo menos finais do século XVI, era notória essa preocupação da Câmara Municipal, registada em vereação, permitindo-nos compreender o seu nome – ‘Chafariz dos Canos’ -, quando em 6 de Setembro de 1597, ordenaram ‘halimpar os canos da agoa (o aqueduto) da fonte he chafaris dela, a António Fernandes, sapateiro, morador na vila, ‘começando da madre da fonte the o chafaris’, como se diria mais tarde.
Outras obras o chafariz sofreria ao longo dos séculos, muitas das vezes encoberto pelas obras do aqueduto, das quais aquele não se poderia individualizar, uma vez que ambos fazem parte de um só edifício. A primeira referência ao aqueduto é de 1561, porém como obra antiga, desconhecendo-se a data da sua construção, assim como se o chafariz foi alimentado nos primeiros séculos pela mesma fonte. Em 1680, o aqueduto encontrava-se em grande ruína, tendo caído ‘ao chão pelos alicerces’, no vale do Sisandro, exigindo a sua reconstrução um recrutamento de braços excepcional.
Nos séculos XVIII e XIX, o chafariz dos canos foi alvo de novas obras, passando a ter dois tanques: o superior, onde a água corria por duas bicas, para uso das pessoas, e o inferior, onde a água caía, pela boca de dois golfinhos esculpidos em pedra, para uso dos animais. Este tanque foi feito de novo em 1831, por mandado do então Corregedor da Comarca Inácio Pedro Quintela Emaús, tendo em volta um conjunto de marcos de cantaria de modo a impedirem a aproximação de carros. Em 2012, foi restaurado pelo município, sendo-lhe devolvida a dignidade de outrora.
Carlos Guardado da Silva