Torres Vedras

O Golpe Militar de 28 de maio

01.05.2015

Identidade maio

Desde cedo, a jovem República, implantada em 5 de outubro de 1910, dera sinais de instabilidade e de degradação das instituições, que se agravariam, depois do final da I Guerra Mundial. Entre os militares, aumentava a indisciplina e sucediam-se as sublevações na procura de repor a estabilidade e a segurança no país. Em 28 de maio de 1926 iniciava-se mais um levantamento, comandado pelo general Gomes da Costa, que, tendo início em Braga, rapidamente se estenderia às principais cidades do país e, sobretudo, à capital, apresentando António Maria da Silva a demissão do governo a Bernardino Machado, no dia seguinte. Com o desígnio de instauração de um novo tipo de Estado autoritário, punha-se termo à I República e, consequentemente, à “ditadura” do Partido Republicano Português, implantando-se uma Ditadura Militar.

Distante do binómio democracia versus ditadura, em Torres Vedras a discussão fazia-se em torno da dicotomia monarquia-república, quando a câmara municipal se encontrava nas mãos dos monárquicos havia quatro anos. A própria imprensa local – os jornais A Nossa Terra, fundado em 1924, e O Correio de Torres, publicado desde 10 de Janeiro de 1926 - representantes de duas fações políticas mais conservadoras de então, a União Republicana Liberal e a Acção Realista Portuguesa, respetivamente, apoiaram vivamente o golpe militar de 28 de Maio. Neste contexto, também os republicanos, de distintas fações, aprovaram e apoiaram a alteração política, vista como um modo de provocar uma mudança no governo da câmara municipal, então presidida pelo ‘cidadão’ Álvaro Galrão, substituindo os monárquicos pelos republicanos. Assim se entendem as preocupações registadas nas páginas do periódico republicano A Nossa Terra relativas à formação de uma nova Comissão Administrativa para gerir a câmara municipal de Torres Vedras.

Distante do binómio democracia versus ditadura, em Torres Vedras a discussão fazia-se em torno da dicotomia monarquia-república, quando a câmara municipal se encontrava nas mãos dos monárquicos havia quatro anos.

As diversas fações políticas movimentaram-se de modo a influenciar a sua constituição, sendo-lhe dada posse, em 30 de Julho do mesmo ano, pelo tenente da Infantaria 5, António Vitorino França Borges, que ocupava, desde 1 de Julho, o cargo de Administrador do Concelho, por suspensão do capitão e médico Aurélio Ricardo Belo, último Administrador do Concelho na Primeira República. Na cerimónia da tomada de posse, apenas discursaram Justino Freire de Moura da Guedes, pela União Republicana Liberal, e Vitor Cesário da Fonseca, pelo Partido Nacionalista, ambos partidários de fações republicanas. Da nova Comissão Administrativa, presidida por Silvério Botelho Moniz de Sequeira (viticultor-proprietário), no cargo até 21 de Outubro de 1931, não fazia parte um único monárquico, quer entre os efetivos, quer entre os suplentes, num total de catorze nomeados. Integravam o executivo, como membros efetivos, o dr. António Manuel Figueira Freire (médico e viticultor-proprietário), o eng.º João dos Santos Ghira (viticultor e proprietário), João Germano Alves (viticultor-proprietário), José Anjos da Fonseca (comerciante e proprietário), António Rodrigues Venâncio (farmacêutico e viticultor-proprietário) e José Augusto de Almeida Trigueiros (comerciante e industrial), que ocuparia o lugar em substituição do dr. Artur de Castilho (engenheiro agrónomo), tomando posse em 8 de Abril do ano seguinte. Eram homens, como diriam de si próprios em 1928, “integrados, sem hesitações nem desfalecimentos, nas aspirações da Didatura Militar moralisadora da administração pública e dos costumes”, que assumiram “as responsabilidades administrativas do seu Concelho”. Com a vitória dos republicanos sobre os monárquicos desfizera-se esta dicotomia, dando origem, já no Estado Novo, a uma nova divisão, desta vez entre nacionalistas e internacionalistas.

Carlos Guardado Silva

Última atualização: 13.08.2019 - 15:35 horas
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