Torres Vedras

Renato Valente

27.05.2016

Renato Valente

Renato Valente, eborense de nascença e torriense de adoção, marcou a vida associativa e social do concelho, tendo levado o nome de Torres Vedras além-fronteiras nas atividades de intercâmbio que dinamizou.

Técnico de farmácia de profissão, foi a sua dedicação às instituições e eventos do concelho que levou à atribuição da medalha de mérito municipal de grau ouro a 11 de novembro de 2010.

Por ocasião do seu falecimento, a Câmara Municipal de Torres Vedras expressa as suas sentidas condolências à família e, em gesto de homenagem e agradecimento, reproduz a entrevista originalmente publicada na Revista Municipal "Um Concelho" em dezembro de 2010.

Nasceu em Évora há 80 anos e reside em Torres Vedras há 56. O que o levou a radicar-se nesta terra?

É um pouco bizarra a forma como vim para Torres Vedras. Saí de Évora já como técnico de farmácia para trabalhar nas Caldas da Rainha onde estive dois anos empregado numa farmácia. Tive então um convite para trabalhar em Torres Vedras por intermédio de uma pessoa que era amiga da minha família. Como Torres Vedras era na altura uma terra pequena pedi uma exorbitância de dinheiro para vir trabalhar para aqui. E a minha primeira impressão de Torres Vedras não foi de facto muito favorável, até porque nesse tempo as suas ruas ainda eram em terra. Mas quando falei com o senhor José Perdigão foi amor à primeira vista. Ele compreendeu a minha situação e aceitou perfeitamente as minhas condições e, assim, vim praticamente inaugurar a Farmácia Torreense…

Desenvolveu a sua actividade sempre na área da saúde…

Sempre. Fiz alguns anos de liceu e comecei a ganhar dinheiro muito cedo como técnico de farmácia. Na altura as pessoas ligavam mais aos empregos do que à carreira. Como disse, em Torres Vedras comecei a trabalhar na Farmácia Torreense, tendo mais tarde me tornado sócio desta farmácia e posteriormente também da Farmácia Santa Cruz de que sou atualmente proprietário, tal como da Valanálises. Devo dizer que tive duas ou três ofertas para ir trabalhar para outros sítios que me proporcionavam melhores condições, mas na hora de decidir acabei por ficar em Torres Vedras pelos amigos que fui aqui fazendo. Desempenhei ainda o cargo de delegado sindical por sugestão do dr. Herlander Anacleto, que muito me ensinou em termos profissionais, e de presidente da Assembleia-Geral da Associação de Técnicos de Farmácia. Naqueles tempos em que pouco se podia abrir a boca, um dos setores mais fortes do sindicato era o de Torres Vedras. Desenvolvi aqui uma união extraordinária entre os técnicos de farmácia e os próprios farmacêuticos. Devo igualmente referir que tenho realizado ações de informação escolares na área da saúde, que têm sido um sucesso.

Começou também cedo a integrar-se na vida social torriense…

Quando o Torreense começou a sua ascensão para a 1.ª Divisão fui convidado por um amigo meu, o senhor Fernando Santos, que foi diretor desportivo do clube, para ajudar a montar um posto médico no mesmo, nessa altura com o Góis. Como nesse tempo já havia camadas jovens que necessitavam de um massagista eu dispus-me para esse efeito. A época era outra e as captações eram feitas nas aldeias. E isso deu-me a possibilidade de conviver com muita gente, o que me tornou bastante conhecido no concelho. A alma e coração de torriense das pessoas do clube com quem trabalhava acabou por me ser transmitida. Comecei a ser tratado como um cidadão torriense, embora tenha também um orgulho extraordinário em ser alentejano e eborense. Apesar disso, hoje já sou mais torriense do que eborense.

Inseri-me também em outras coletividades, fui director da Tuna, massagista da Física, treinador, massagista e dirigente do CF ”Os Paulenses” - onde estive envolvido na construção do seu pavilhão -, e passei ainda pelos bombeiros - em que fui vice-presidente -, SC Torres e Rádio Europa. Possuo vários títulos honoríficos de quase todas estas entidades que me foram atribuídos pelos relevantes serviços que prestei. De uma maneira geral, onde entro gosto que as coisas mexam e acabo por motivar as pessoas para trabalhar. Tenho encontrado em Torres Vedras pessoas excecionais, algumas que vivem na sombra, mas que trabalham muito…

Tenho encontrado em Torres Vedras pessoas excecionais, algumas que vivem na sombra, mas que trabalham muito…

Também tem estado envolvido na organização do Carnaval…

Sim, fui convidado a entrar no Carnaval de Torres por intermédio do dr. Augusto Troni, porque a lei obrigava a existir um socorrista dentro do recinto do corso. Como tinha o curso de primeiros-socorros, o meu envolvimento no Carnaval começou dessa forma. Nesses anos, a Comissão do Carnaval de Torres era totalmente independente da Câmara e trabalhava em prol de associações da terra, numa espécie de desorganização organizada. Mais tarde, entrei para essa comissão, para fazer a locução de propaganda em carros durante o corso. Com a entrada do dr. António Carneiro para a Câmara Municipal e com o seu espírito dinâmico ganhámos uma motivação acrescida e o Carnaval de Torres adquiriu outra dimensão. Atualmente sou membro da Confraria do Carnaval de Torres, sou o segundo mais velho. E estamos a tentar dinamizar a confraria para que o Carnaval seja apresentado durante o ano inteiro. Para mim o Carnaval de Torres terá de regressar um bocadinho ao passado até porque neste momento não podemos competir com os meios de comunicação actuais que apresentam coisas espectaculares. Temos de recuar um pouco no tempo e mostrar o que era o nosso Carnaval.

Esteve ainda envolvido na organização de outros eventos de Torres Vedras…

Sim, o dr. António Carneiro convidou-me também para renovar a Feira de S. Pedro, tendo igualmente me empenhado no Festival das Vindimas por intermédio do dr. Leiria, onde desempenhei a função de locutor e de patrocinador.

Por outro lado, tem desempenhado um papel mecenático na área da saúde…

Sim, apoio o hospital, creches, também tenho fornecido gratuitamente medicamentos ao Torreense, ao SC Torres e aos “Paulenses”. Acho que se eu fui adoptado por Torres Vedras também me sinto na obrigação de retribuir…

Acho que se eu fui adoptado por Torres Vedras também me sinto na obrigação de retribuir…

Tem também levado o nome de Torres Vedras ao estrangeiro mediante ações de intercâmbio…

Sim, pertenço à associação Uníssono, que está actualmente sediada em Sindelfingen, apesar de não estar muito ativa. Com o Armando Inácio e o Vítor Henriques desenvolvemos o contacto com essa cidade alemã e com a de Boblingen. Esse intercâmbio foi feito através dos bombeiros, do Clube Artístico e Comercial, e por meio de algumas excursões…

Tem ainda desenvolvido um projecto de caráter social em Cabo Verde…

Sou patrono e padrinho do infantário Black Panthers, que fica no bairro mais pobre da Cidade da Praia. O infantário é um oásis nesse local, e a partir dele presta-se também apoio aos próprios pais, mediante o fornecimento de medicamentos, o pagamento de matrículas no liceu que existe ali perto e a doação de material escolar. Algumas crianças desse bairro já vieram inclusivamente a Torres Vedras. Com isto tornei-me igualmente cabo-verdiano de adoção.

Como tem visto a evolução de Torres Vedras?

Torres Vedras teve um crescimento muito rápido e começa hoje a ser uma boa e grande cidade. Sou um apaixonado pelo centro histórico, talvez por ter crescido numa cidade histórica, gostaria de o ver valorizado e sei que a Câmara está a trabalhar nisso. Há quem diga que Torres Vedras não tem nada para mostrar aos turistas, mas eu tenho uma opinião completamente diferente…

Última atualização: 01.06.2016 - 11:57 horas
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