Torres Vedras

Rota da Água

01.01.2013

Aqueduto

Nesta edição decidimos, assumidamente, meter água! Traçámos um roteiro que o levará por fontes, aqueduto e chafarizes da nossa cidade.

Iniciemos o nosso percurso no recém- qualificado Largo Infante D. Henrique, bem no Centro Histórico de Torres Vedras, outrora junto a uma das portas da vila medieval – a porta da Corredoura, onde encontramos o primeiro monumento a visitar: o Chafariz dos Canos. [1] Trata-se de um magnífico exemplar de fonte gótica, formado por um pavilhão semicircular de cinco arcos ogivais com arquivoltas, suportados por capitéis de decoração vegetalista. Os cinco pavilhões são divididos, em toda a altura, por colunas salientes que sustentam o entablamento. Debaixo da abóbada de grossas nervuras, duas bicas barrocas vertem água para um pequeno tanque. Desconhece-se a data exata da construção do Chafariz dos Canos, datando a primeira referência de 1322.

Desconhece-se a data exata da construção do Chafariz dos Canos, datando a primeira referência de 1322.

Sofreu obras de beneficiação e restauro ao longo dos séculos e havia na cidade pessoas cuja função era “halimpar os canos da agoa da fonte he chafariz dela, da vila. (…) de modo a que “a agoa venha sempre limpa e toda”. 1

Além do enorme valor patrimonial deste monumento, assumiu--se como símbolo da identidade Torriense.

Ao deixar o Largo Infante D. Henrique aproveite para conhecer os outros espaços públicos que foram requalificados o ano passado, como é o caso do Largo de S. Pedro. Sente-se para descansar num dos cafés mais típicos e mais antigos da cidade e traga alguma energia ao corpo com um pastel de feijão da Brazileira de Tôrres.

Caminhe agora em direção à Praça do Município para visitar O Chafariz dos Paços do Concelho [2]. A fonte da Praça do Município foi construída já no ano de 1776, e tem uma frontaria de um andar, com quatro janelas pequenas pombalinas, únicas nesse género, que existiam na vila. A água corre à bica saliente da boca de um grande peixe, esculpido num bloco de pedra de mármore lavrada, para um pequeno tanque também de mármore, e era trazida por um cano subterrâneo do Aqueduto do Chafariz dos Canos.

Por cima deste chafariz encontra-se uma lápide com a inscrição: “JOSEPH. I. P. P. IMP. AD CARCER POPVL. Q. COMMOD. FONT. HVNC. PVBL. EXP. PRAESES PROV. ERIG. CVRAVIT NA. MDCCLXXVI”, ou seja, “O Corregedor da Comarca fez erigir esta fonte, a expensas do público, no ano de 1776, para comodidade da cadeia e do povo, reinando D. José I, Pai da Pátria”. Sobre esta lápide vê-se um curioso escudo em forma de coração e no centro do qual estão duas torres inclinadas, semelhantes às antigas insígnias das armas da vila do Chafariz dos Canos.

Suba a Rua Serpa Pinto até à Praça da República e encontrará a escultura “Senhoras das Águas”, da autoria de Jorge Ponce e inaugurada em 2008. Esta escultura associa a Arte ao Ambiente e, dado que se encontra instalada junto ao fontanário existente naquele espaço, foi em torno da água que o artista desenvolveu o conceito da sua criação.

A próxima paragem é no Choupal, onde encontraremos o Chafariz de São Miguel que deve o seu nome à Igreja de São Miguel que se encontrava defronte, ao sul, na margem esquerda do rio Sizandro. A sua presença é atestada por uma carta de emprazamento, datada de 1267, relativa a um olival, situado a “São Vicente a par do Chafariz de São Miguel” 2.

O chafariz tinha igualmente um brasão de armas moderno, muito provavelmente do século XVI.

Seguimos agora na direção dos Cucos, mas paramos antes, junto às antigas instalações do IVV, para admirar o Aqueduto, monumento que tem mais de dois quilómetros e conduzia as águas para a vila, parte canalizada sobre arcos simples ou sobrepostos e outra parte ao nível do chão e por baixo da terra. É também difícil precisar a data da sua construção, mas num pergaminho de 1561 já se refere a sua existência como obra antiga. O Aqueduto, que ligava ao Chafariz dos Canos,  foi também alvo de diversas intervenções, quer de reparo de pequenos danos, quer de reconstrução de, pelo menos, parte do mesmo. A mais recente obra de recuperação e restauro é datada de 1990.

Terminamos o nosso “curso” junto ao Chafariz da Fonte Nova [2], uma réplica do chafariz primitivo, localizado junto à Física de Torres Vedras. Provavelmente de construção quinhentista, destacava-se então na parede do tanque o brasão das armas da vila, com a data de 1529. A água deste chafariz vinha por um aqueduto à superfície da terra e nascia de uma mina existente na encosta sobranceira. Numa provisão régia, de 7 de junho de 1613, era referida a grande necessidade que o povo padecia por falta de água na vila, acrescentando-se que os canos da fonte principal estavam muito danificados e que a câmara fizera “vir à vila um vedor de águas e que junto à outra fonte que se chama Fonte Nova lhe dera muita água…”.

Nesta “Rota da Água” há mais locais e monumentos por descobrir… apenas lhe deixámos algumas sugestões para que siga o seu “curso”, ao sabor da sua “corrente”.

1. VEIGA, Carlos Margaça e SILVA, Carlos Guardado – O Livro de Acórdãos do Município de Torres Vedras: 1596-1599. Torres Vedras: Câmara Municipal, 2003. Pp.80-81.

2. VIEIRA, Júlio - Torres Vedras antiga e moderna. Torres Vedras: Liv. Da Sociedade Progresso Industrial, 1226. P. 113, 178.


Texto: Andreia Correia
Fotografia: Pedro Fortunato

Última atualização: 27.09.2019 - 10:50 horas
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