Torres Vedras

Portugal e a Grande Guerra!

01.09.2014

Portugal  e a Grande Guerra!

Há 100 anos atrás, na manhã de domingo de 28 de junho de 1914, o arquiduque Francisco Fernando, sobrinho do imperador Francisco José e herdeiro do trono austro-húngaro, e a sua mulher Sofia Chotek eram assassinados em Sarajevo, capital da Bósnia-Herzegovina, então uma província austro-húngara. Gavrilo Princip, um jovem estudante de 19 anos foi o autor dos disparos, porém o atentado tinha a responsabilidade da Crna Ruka (‘Mão Negra’), uma organização nacionalista sérvia, braço armado da organização semissecreta Narodna Odbrana (‘Defesa do Povo’), que lutava pela libertação dos jugoslavos (eslavos do sul), pelo domínio de Viena e pela criação de uma Grande Sérvia.

Disparava também a então designada Guerra Europeia, Grande Guerra pouco depois, até que, com a eclosão da Segunda Guerra Mundial, se fixaria o nome de Primeira Guerra Mundial. O Império Austro-Húngaro declarou guerra à Sérvia em 28 julho de 1914, começando o bombardeamento a Belgrado (capital sérvia) em 29 de julho, e multiplicar-se-iam as declarações de guerra e as invasões e ocupações. Era o início de uma guerra anunciada…

Portugal entrou na guerra para defender o seu território colonial, dado o interesse estratégico e económico das colónias por parte das grandes potências europeias, sobretudo da França, da Inglaterra e da Alemanha, através das quais Portugal mantinha algum peso político no difícil equilíbrio da balança de poderes na Europa. Assim se entende a resistência inglesa à entrada de Portugal na Guerra, forma de evitar quaisquer compromissos, bem como eventuais pretensões territoriais portuguesas em conversações de paz. Pois o risco de perda de soberania portuguesa sobre esses territórios existia. A questão colonial foi, talvez a que mais pesou na opção, sendo o único motivo de entrada de Portugal no conflito que reuniu consenso na sociedade portuguesa. Todavia, entrar na guerra ao lado dos aliados permitiria a Portugal travar as pretensões alemãs no sul de Angola e no norte de Moçambique, mas também as pretensões britânicas de jogar as colónias portuguesas na mesa das negociações no final do conflito.

Também, as relações com o país vizinho tinham-se agravado com a implantação da República, permitindo a Portugal, entrando no conflito, evitar a ameaça espanhola, uma vez mais presente, voltando a ganhar expressão a vontade anexionista de alguns setores espanhóis. Afirmava-se, deste modo, a aliança anglo-lusa e justificava-se a opção beligerante face à Espanha neutra, reforçando-se a posição portuguesa no contexto peninsular.

Mas a entrada na guerra garantia também o prestígio e o reconhecimento internacionais de Portugal no contexto europeu, reconhecimento internacional que faltava de jure à jovem República, assim como faltava a consolidação e a legitimação do regime, que passaria pela «defesa externa e interna da República», ou seja pela defesa da unidade política dos republicanos e da união dos Portugueses tão caras ao Partido Democrático. 

Motivos que justificavam a entrada de Portugal na Grande Guerra, concretizada na sequência do pedido inglês de apresamento de todos os navios alemães na costa portuguesa, em março de 1916, e da sequente declaração oficial de guerra a Portugal pela Alemanha, a 9 de março de 1916, apesar dos combates em África se verificarem desde 1914. Em 1917, as primeiras tropas do Corpo Expedicionário Português partiam para a Guerra na Europa, em direção à Flandres...

Carlos Guardado da Silva

Última atualização: 13.08.2019 - 15:32 horas
voltar ao topo ↑