Torres Vedras

Prémio Municipal de Arquitectura

18.04.2005

As distinções no âmbito do Prémio Bienal de Arquitectura da Câmara Municipal de Torres Vedras foram entregues no passado dia 15 de Abril, no Salão Nobre do Edifício dos Paços do Concelho.

Analisados os projectos referentes a edificações construídas em 2002 e 2003, a Comissão designada para o efeito seleccionou 23 imóveis, os quais foram agrupados em quatro categorias distintas.
 
Relativamente à categoria de "Habitações Unifamiliares", foi atribuído o 1.º prémio a uma moradia situada no Casal do Telhadouro - Ponte do Rol, projectada pelo Gabinete "Lema Barros + Castelo Branco Arquitectos", sendo seu promotor Luís Carlos Gomes Santos.
Tratou-se de uma decisão unânime do júri, que resultou da forma exemplar como esta construção associa "implantação", "relação do Edifício com o lugar e a paisagem" e "Programa - qualificação e articulação dos espaços que constituem a casa".
Se com a estrutura espacial da casa parece querer-se fazer significar a linha de festo onde assenta, a qualificação dos vários espaços que compõe a casa remete, simultaneamente, para um sentido notável de estadia e de conforto.
Entende-se ainda que o projecto, baseado num princípio compositivo claro, recusa, no entanto, desenvolver-se como solução simplesmente diagramática ou resignadamente contextualista, preferindo encontrar, através de processos correntes e materiais de construção triviais, uma lógica própria e extremamente consistente para a sua materialização, fazendo ressaltar, enquanto elementos primordiais da sua composição - e, porque não, da própria ideia da casa, um plano de cobertura - um corpo de chaminé.
Ainda no que se refere à categoria de "Habitações Unifamiliares", o júri decidiu atribuir uma menção honrosa a uma outra habitação localizada em Casal Passareiro - Varatojo (projecto do Arquitecto José Rodrigues Gomes, sendo seu promotor Aida Maria Silva Marçal Gomes).
Esta proposta foi enaltecida pelo júri, tendo em conta que "perante a paisagem de um vale, constrói-se um pátio que toma, como um dos seus limites, a encosta à qual se adoça. Este pátio e a casa que o confina constituem-se como culminar de um percurso pontuado por pequenas marcas construídas que formam um conjunto claro e muito interessante.
O desejo evidente de um minimalismo formal adoptado em todo o projecto estende-se à resolução dos detalhes construtivos e, significativamente, à constituição dos seus limites transparentes. Questionam-se assim, de forma pertinente, os sentidos de aberto/fechado, interior/exterior, distância/proximidade.  
 
No que concerne à categoria de "Restauro, remodelação ou reabilitação de imóvel existente", foi atribuído o 1.º prémio à reabilitação da Casa da Quinta da Gaga - Ramalhal, projectada pelo eng.º José António da Cruz Ferreira Crespo, que foi, também, promotor da obra.
Na atribuição desta distinção, o júri foi sensível ao facto de, a partir da ruína de uma construção tradicional (re)construir-se uma casa.
Aqui restaurada de forma quase arqueológica, estudando e retomando, minuciosamente, práticas e formas de construção tradicionais, ali fortemente transfigurada, recorrendo mesmo a elementos contemporâneos de produção pré-fabricada, a casa consegue uma grande unidade formal e espacial, prolongando-se em pátios que estabelecem uma relação intemporal com o arvoredo próximo, a terra lavrada, o ruído da estrada ou o recorte da paisagem distante. Ao questionar os sentidos de modernidade e de tradição, a casa resulta como experiência pragmática e culta de lidar com a memória edificada - não só a do monumento mas a das coisas de todos os dias - e a sua adequação efectiva à vida presente, numa região em que a transformação radical do território vai parecendo irreversível e a necessitar urgentemente de casos modelares.
É uma obra de amador, no seu sentido primeiro: daquele que ama, aqui com prazer e inquiteção.
Ainda no âmbito da categoria de "Restauro, remodelação ou reabilitação de imóvel existente", de realçar que o Edifício-sede da Cooperativa de Comunicação e Cultura de Torres Vedras (projecto do arquitecto Joaquim Manuel Vasquez Esteves) foi distinguido com uma Menção Honrosa.
Considerou, o júri, dever-se referenciar esta proposta, visto que, "partindo de um pressuposto de intervenção recorrente nos centros históricos das cidade e teoricamente discutível - a manutenção da pele exterior de um edifício e reconstituição integral do seu interior - gere, de uma forma hábil e interessante, esta estratégia. Confrontando com uma área reduzida e um programa complexo, o projecto aposta em caracterizar fortemente os elementos interiores e espaços principais do edifício, tirando partido da configuração volumétrica pré-existente, bem como da fenestração encontrada, a qual é tratada, discretamente, com técnicas e materiais contemporâneos, recusando qualquer recurso ao pastiche.
 
Aos edifícios integrados na categoria de "Habitação Colectiva", não foram atribuídas distinções, pelo facto do júri ter considerado que os projectos pré-seleccionados não reuniam os predicados necessários à atribuição dos respectivos prémios.
 
Ao Centro Diocesano Mariano em Capa Rosa - Turcifal (projecto do Gabinete "RRJ Arquitectos", sendo seu promotor o Seminário Maior Cristo Rei) foi atribuído o 1.º Prémio na categoria "Outras Edificações", onde concorreram Equipamentos, Infra-Estruturas, Arquitectura de Interiores e outras manifestações de Arquitectura.
O Júri, "após aturada análise das propostas e visita às mesmas", entendeu que dos oitos projectos nomeados para esta categoria, "existe um que contrapõe a uma área de construção importante e a um programa extremamente específico e complexo, uma paleta de materiais constituída por três ou quatro cores essenciais. A utilização sistemática e significativa destes materiais, tanto na relação com o lugar e com a paisagem, como na constituição e qualificação de uma grande diversidade de situações e espaços exteriores e interiores, confere a todo o conjunto um acerto e coerência formal notáveis que atinge momentos de grande domínio. Será importante sublinhar que, para o sucesso efectivo de uma obra com a qualidade indiscutível que apresenta, não podem ser alheios todos os seus agentes, para lá dos projectistas, nomeadamente o empenho do dono da obra, a competência da construtora bem como a eficácia da sua construção".  
De referir ainda, nesta categoria, a menção honrosa atribuída ao Depósito de Água de Casal Chafariz - Portela da Vila, projectado pelo arquitecto José Caldeira e construído pela empresa "Ângelo Custódio Rodrigues, SA".
Uma distinção que o Júri justificou, tendo em conta "que ao contrário da maioria dos programas normalmente associados à disciplina da Arquitectura, um depósito de água implica, por um lado, uma funcionalidade extremamente básica e, por outro, um uso directo, à partida, quase inexistente. Sendo construção humana, não é, no entanto, um habitáculo, mas é sempre, pela necessidade da sua dimensão, uma presença visível na paisagem. O projecto revela a consciência desta particularidade de uma forma muito interessante, ao apostar numa clareza volumétrica da sua configuração, na qual se adivinha o desejo de constituir-se como referência clara e persistente no território.
 
Durante o mês de Abril os projectos seleccionados no âmbito da iniciativa estão em exposição no Átrio do Salão Nobre do Edifício dos Paços do Concelho.

Última atualização: 04.03.2016 - 19:49 horas
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