Torres Vedras

Sara Eustáquio

01.09.2016

Sara Eustáquio é um jovem “prodígio” torriense que se revelou recentemente com a realização de uma curta-metragem que já obteve várias distinções no estrangeiro. O seu sonho é seguir a carreira da 7.ª Arte e por isso ambiciona a curto prazo partir para o estrangeiro para estudar cinema. À [Torres Vedras] falou sobre a sua premiada curta-metragem “4242”, o recente curso de cinema que realizou em Nova Iorque, a sua visão do panorama cinematográfico e da arte, a sua terra e os seus projetos futuros. Um excelente exemplo para a sua geração…

Começava por te perguntar como surgiu a ideia de fazer a curta-metragem “4242” que foi recentemente premiada em festivais internacionais?

Eu já tinha feito um pequeno trabalho para a escola e a partir daí sabia que queria fazer mais coisas na área do cinema até porque quero ir para um curso de cinema, onde é pedido portefólio. Por isso sabia que tinha de fazer mais e quando surgiu a oportunidade fiz então esta curta-metragem.

Como foi o processo de elaboração da curta-metragem?

Levantávamo-nos cedo, na noite anterior discutíamos as localizações, que foram em vários locais da região, e durante o dia íamos aos sítios que precisávamos, onde filmávamos as cenas que eram necessárias.

(…) só trabalhando mais é que vou conseguir melhorar (…)

Em que consiste essa curta-metragem?

Esta curta-metragem fala um bocadinho da história da Cristina, baseado na sua vinda para Portugal, no que ela sentiu quando soube que vinha, no que ela sentiu quando cá chegou, sem saber a língua, sem conhecer ninguém… Ela não compreendia o português e era eu quem lhe traduzia as aulas para inglês. E como ela tinha o sonho de ser atriz e eu realizadora resolvemos avançar com o projeto do “4242”.

Qual foi a colaboração da Cristina nesta curta-metragem?

O texto inicial foi escrito por ela, nós depois é que o adaptamos para a curta. Durante as filmagens ela também dava sugestões, foi mesmo um trabalho muito de equipa.

Foram só vocês duas que elaboraram o trabalho?

Sim, se bem que no final tivemos ajuda, nomeadamente na parte da música, mas o projeto em si fomos só nós as duas.

Em termos mais técnicos, na elaboração da curta-metragem, que problemas, desafios, obstáculos tiveste de ultrapassar?

Como não tínhamos muitos equipamentos tínhamos de muitas vezes usar a imaginação. Por exemplo, uma vez que queria acompanhar o movimento da Cristina a correr tive de me por no porta bagagens do carro. Outro exemplo, em dezembro, tive de fazer uma cena em que fingia que ela se estava a afogar e eu queria que ela entrasse mesmo dentro do mar, mas como estava muito frio disse-lhe para se deitar só à beira-mar e quando a onda veio filmei-a, foi tudo muito rápido. Tivemos de acabar essa cena numa banheira. Filmamos também uma cena de madrugada, no Terreiro do Paço, em que a Cristina esteve imóvel durante 15 minutos. Passámos por alguns momentos engraçados. Mas acabou por correr tudo bem e ficar lá a ideia, e às vezes até parece que foi usado outro tipo de equipamento ou de condições.

Que distinções recebeu esse vosso trabalho até agora?

Até agora já esteve em várias seleções oficiais de festivais de cinema e já tem várias distinções, para além das várias críticas bastante positivas em alguns jornais estrangeiros. É muito gratificante até tendo em conta os orçamentos dos outros filmes selecionados, já que o meu nem orçamento teve.

Há quanto tempo te interessas pela cinematografia e como desenvolveste a técnica que te levou a elaborar esta curta-metragem?

Gosto bastante de cinema, até porque lá em casa há um gosto muito grande por cinema, o meu pai é inclusivamente um cinéfilo. Há algum tempo para cá já editava alguns vídeos, mas apenas pela brincadeira, chegava a fazer trailers só de livros, com imagens que ia buscar à internet. Foi a partir daí que comecei a interessar-me por seguir a área do cinema…

(…) a arte tem de nos causar emoções (…)

Gostarias de aprofundar já a curto prazo conhecimentos relacionados com a produção de filmes?

Sim, nos próximos projetos vou também já começar a tomar mais atenção à parte técnica. Nos trabalhos que realizei até agora faltou algumas coisas, mas só trabalhando mais é que vou conseguir melhorar.

Tens para já mais projetos na área do cinema?

Acabei agora de fazer um muito curtinho, que se chama “Mirror”, e também já estou a pensar em fazer outro a sério como o “4242”.

O “Mirror” resultou de uma recente experiência em Nova Iorque em que fizeste um curso de realização. Como foi essa experiência na New York Film Academy?

Quando fui para lá estava com muito receio até porque ia trabalhar com pessoas que não conhecia e quando cheguei deparei-me com uma turma de 15 que foi dividida em grupos de 3 ou de 4. Os meus colegas eram de várias nacionalidades. Havia dias em que filmávamos, nos quais o grupo ia sempre rodando, por exemplo, quando eu era realizadora havia sempre alguém que ficava na câmara, depois havia um que fazia de ator ou podia estar mais atrás da câmara. Tínhamos duas horas e meia para filmar e outras tantas para editar. Era tudo muito a correr. Quando acabamos esse projeto disseram logo que tínhamos de nos preparar para o projeto seguinte que era o nosso projeto final em que já tínhamos os atores do curso de representação. Tivemos castings com os atores, eles faziam monólogos para nós, dávamos-lhes nomes e pontuação. Para esse projeto final tivemos um dia inteiro para filmar e um dia inteiro para editar. Só que também estávamos um bocado limitados porque as curtas-metragens que fazíamos não podiam ter diálogos, a grande ideia daquela escola era ensinar-nos a contar histórias, já que o cinema tem agora esse problema que é não conseguir encontrar grandes histórias. No dia das gravações já tínhamos de ter alguns dos locais pensados, mas não podíamos apanhar o metro e ir para o outro lado da cidade porque não dava. Então tínhamos essas limitações. Mas correu tudo bem. Foi engraçado porque foi diferente, até porque não estou habituada a trabalhar em inglês.

E como foi trabalhar com novas técnicas e com o elemento humano, passar de um experiencialismo para algo mais profissional?

Inicialmente foi um bocado complicado mesmo por causa do inglês, não estava habituada a falar sempre em inglês. Mas de resto foi muito bom porque aprendi imensas coisas, em três semanas aprendi imenso na área técnica.

E dessa experiência surgiu então aquela segunda curta-metragem, o “Mirror”, que está agora a candidatar-se a festivais de cinema…

Sim, esta curta-metragem é mais pequenina, só tem três minutos enquanto a outra tem onze, mas vamos ver o que dá…

O que achas que é mais importante no cinema: a inspiração ou a parte mais técnica na execução dos projetos?

Eu acho que as duas partes completam-se um bocadinho, porque se o filme não tiver uma boa ideia não se torna interessante e as pessoas também não vão querer ir vê-lo, mas se não estiver bem tecnicamente também não vai resultar.

És mais adepta da parte técnica do cinema ou dessa parte mais romântica ligada aos guiões, às histórias?

Eu gosto de um filme quando tem uma história e não é vazio, mas quando tem demasiados efeitos especiais também não gosto muito, porque deixa de ser real. É o meu gosto pessoal, gosto quando as coisas são mais realistas.

Por onde achas que o cinema vai caminhar no futuro? Vai ser por essa parte mais técnica, ou pelo outro lado, vai procurar uma maior complexidade em termos de argumentos ou até procurar recriar histórias do passado?

Eu acho que vai ser um bocadinho das duas coisas, porque muitas pessoas hoje em dia estão a preocupar-se cada vez mais com os argumentos em si, enquanto outras estão a explorar mais os efeitos, porque as tecnologias estão a evoluir cada vez mais. Vai ser para os dois lados.

Onde é que achas que a tecnologia nos vai levar?

Acho que vai poder trazer coisas bastante boas principalmente na área do cinema, até porque atualmente já podemos fazer muito mais coisas e é cada vez mais fácil.

Neste momento até já existem festivais de cinema com filmes produzidos só com telemóveis…

Sim, sei de pessoas que usam só o corpo do telemóvel, usam uma lente e enviam os trabalhos feitos dessa forma para festivais. Agora os telemóveis já têm todas as condições para se conseguir filmar. Na minha opinião, filmar com um telemóvel é um grande desafio…

Consegues definir uma linha do que para ti é arte e não é arte? Um vídeo feito com telemóvel pode não ser considerado arte? Onde é que começa e acaba o cinema na tua opinião?

Acho que não dá para dizer o que é arte e o que não é arte, porque para mim, por exemplo, há coisas que posso considerar que é arte e para outras pessoas não o é. A arte é algo que depende de pessoa para pessoa…

Portanto, a arte para ti está no domínio da subjetividade…

Sim, é mesmo subjetivo. Eu acho que a arte tem de nos causar emoções e isso também depende de pessoas para pessoa…

 

Que filmes até agora mais te marcaram e fizeram despertar em ti o sonho do cinema?

Eu vejo muitos filmes, por isso é complicado escolher alguns, mas o “American Beauty”, o “Submarine” e o “Fight Club” talvez sejam os meus preferidos…

E cinema europeu, também gostas?

Sim, ultimamente tenho visto muitos filmes franceses, também gosto muito.

Costumas ir ao cinema ou vês os filmes só em casa?

Sempre que sai um filme que me interessa costumo ir ao cinema, mas agora com a internet também estão muitos filmes disponíveis a partir do computador. E também vejo muitos filmes na televisão.

Achas que as salas de cinema vão morrer?

Não, acho que as pessoas vão continuar a ir ao cinema.

(…) gostaria de ver mais pessoas a fazer curtas-metragens (…)

Qual é a tua opinião em relação ao panorama do cinema em Portugal e na região?

Acho que se deviam organizar cada vez mais iniciativas na área do cinema, porque na minha opinião o cinema ainda não é valorizado como devia ser. Gosto de conhecer pessoas que também estejam interessadas por essa temática, e gostaria de ver mais pessoas a fazer curtas-metragens.

Qual é a tua opinião em relação ao panorama cultural de Torres Vedras, a tua terra?

Costumo vir a alguns espetáculos ao Teatro-Cine, e às vezes também vou ver espetáculos ao Parque da Várzea.

E gostas de viver na cidade de Torres?

Sim, gosto.

No futuro gostarias de viver em Torres Vedras?

No futuro estou a pensar em ir viver para fora, mas claro que sempre que tiver oportunidade vou querer cá voltar.

Para além do cinema tens outros hobbies, outros interesses?

Para além do cinema gosto muito de desenhar, até porque na escola estou na área de artes, e também leio muito e ouço muita música.

Para além de projetos na área do cinema gostarias de avançar com outros no futuro?

Talvez na área da fotografia ou do desenho.

Tens algum desejo em especial para a terra onde moras ou algum desejo que gostasses de ver aqui concretizado?

Eu acho que a terra evoluiu muito culturalmente, acho que tem tido muitos mais projetos, muitas mais iniciativas, e acho que é só continuar com isso…

Tu és um excelente exemplo para a tua geração, és alguém que tem um estilo de vida saudável e dedica o seu tempo a projetos que são uma mais-valia. Gostarias de deixar alguma mensagem aos jovens nesse sentido?

Eu acho que cada jovem pode ter um hobbie, pode não ser nas artes, pode ser no desporto, ou noutra área, mas deve tentar conciliá-lo com a escola. Deve ter os hobbies que gosta e nunca os deixar porque também é muito importante fazer algo para além da escola, mas também nunca esquecer que é importante estudar e ter boas notas.

Última atualização: 01.09.2016 - 18:02 horas
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