Torres Vedras

Bruno Santos

29.06.2024

O interesse pelas motas surgiu desde cedo e em 2010 começou a competir em provas profissionais de Todoo-terreno e Rally Raid. Em 2018 e 2019, sagrou-se campeão nacional, a que se seguiram outros títulos. No início deste ano, concretizou o sonho de participar no Rally Dakar, onde conquistou o segundo lugar no Ranking Rookie. A revista Torres Vedras esteve à conversa com o piloto Bruno Santos.

Como é que surgiu o interesse pelas motas?

Este interesse pelas motas surgiu de uma forma muito natural. A partir dos 10, 12 anos comecei a ter algum interesse particular. Lá em casa, toda a gente gostava de futebol, todos eram jogadores. […] A minha vida foi bastante diferente. Acompanhava, mas não tinha aquele interesse particular e fui-me interessando particularmente por motores, motas, carros… Sempre tive muito gosto e sempre tive também muito contacto por alguma proximidade. Nunca imaginei a nível competitivo, mas foi aí que começou.

Em 2010 começa a participar em provas profissionais e em 2018, sagra-se campeão nacional de TT Rally Raid. Como é que foi este percurso desde amador a campeão nacional?

Entrei na primeira prova com a simples vontade de desfrutar, de passear e de conhecer um pouco aquilo que era o Enduro - foi numa prova de Enduro que iniciei as competições. Naturalmente, fui evoluindo, fui aprendendo. Quando comecei já tinha mais de 20 anos, não era assim tão miúdo. Tinha tudo por aprender, não tinha a técnica. […] No Enduro cheguei às elites, somei ali uma forma onde os concorrentes que tinha à minha frente estavam 100% profissionais e tinha muita dificuldade em competir com eles naquela altura. Acabei por fazer uma pausa e depois de casar e ter filhos, voltei a dedicar um pouco mais de tempo e a envergar mais pelo Todo-o-terreno e pelo Rally Raid. Foi algo que fiz sempre com muito gosto, nunca me custou nada treinar.

E fui assim evoluindo no Rally Raid e a partir do momento em que comecei a ter um bom resultado no Rally Raid em Portugal comecei a ficar com algum sonho internacional, também.

Quando é que surge esta ambição de participar no Dakar?

Esta ambição do Dakar surge em 2019, quando participei no Merzouga Rally, um rally importante em Marrocos que reuniu as grandes equipas, os grandes nomes do mundial de Rally Raid. Eu participei nesta prova, foi a primeira vez que competi no deserto e fiquei com muita admiração. […] Foi uma prova em que me saí relativamente bem, foi um grande desafio naquela época. Assim que regressei a Portugal vinha com uma grande motivação de fazer mais. Acima daquilo o grande objetivo que havia era o Dakar. Comecei a sonhar e o problema foi a partir do momento em que comecei a sonhar. [risos] A pouco e pouco fui montando este projeto. Foi uma época muito difícil, porque entrámos no COVID e toda a gente teve estas dificuldades. Por isso, acabei por adiar mais um pouco. Em 2021 tinha-me preparado ao longo de todo o ano, mas no final do ano, em outubro, competi no Rally de Marrocos, que era uma prova importante que antecedia o Dakar e que me iria preparar para estar nesta competição. Acontece que tive ali um pequeno acidente, uma fratura na perna que colocou em causa a participação no Dakar, que seria em janeiro de 2022. Essa lesão tornou-se ainda mais complicada na recuperação, no pós-cirurgia, porque tive outras complicações, de tal forma que impediu-me de estar no Dakar de 2023. Só fiquei realmente bom no início de 2023. […] Nesse momento, o primeiro desafio a que me lancei foi participar no Rally do Campeonato do Mundo de Abu Dhabi. Era a segunda etapa do Campeonato do Mundo, a primeira tinha sido o Dakar 2023. Foi um enorme desafio, porque tinha estado muito tempo parado, não tinha treino físico e fui para um rally integralmente de areia. Ali consegui erguer-me e ter um ano de 2023 muito positivo, evoluindo ao longo de todo o ano fisicamente e tecnicamente. Pude chegar ao final do ano e sentir que estava preparado e com tudo em condições para no início de janeiro estar a competir no Dakar.

Participar no Dakar e conseguir uma boa classificação foi um sonho concretizado. O que é que sentiu quando chegou ao fim?

Foi uma realização enorme. Parecia que aquilo pelo que estava a passar não teria sido desenhado para mim, quero dizer com isto que jamais imaginei na minha vida algum dia poder estar ali. Só nos últimos anos é que comecei a idealizar isto, porque sempre vi as competições do Dakar e quando acompanhava era de tal forma a grandeza desta competição que jamais imaginaria um dia estar ali. […] É muito difícil definir em palavras aquilo que senti, quer no momento, quer no pós Dakar, o feedback de todas as pessoas. […] As pessoas vibraram, acompanharam, emocionaram-se muito com isto e dá uma força gigante e uma grande satisfação.

Para além dos bons resultados em prova, o seu capacete foi considerado o mais original do Dakar. O que é que este capacete representa?

O objetivo aqui foi levar um pouco mim, um pouco de todos. Para ser possível estar no Dakar foi também necessária a colaboração de algumas pessoas, de diversos amigos, o apoio e incentivo também de muita gente. E eu decidi levar comigo neste Dakar alguns símbolos nossos: a onda do Oeste, porque representa aqui o Atlântico; […] decidi também levar um símbolo muito importante que é um moinho, é um símbolo muito importante na Região Oeste, não só em Torres Vedras, e eu sinto-me um pessoa do Oeste, não só um torriense, mas uma pessoa do Oeste; o símbolo de Portugal; e alguns símbolos mais particulares como da família, o símbolo do Dakar e também do meu amigo Miguel, que foi uma pessoa que me ajudou muito e que já partiu. […]

Este capacete tem muito simbolismo para mim, como também para muita gente, e, por isso, também esta força maior que sempre esteve comigo.

Desta participação no Dakar há algum momento que tenha sido mais marcante?

A primeira etapa para mim foi muito especial, por ser um dos dias - faltavam ainda muitos - mas foi um dia muito duro. Nós, os pilotos, na maioria não estávamos preparados para ter uma primeira etapa tão difícil. Foi uma etapa integralmente de pedra, perigosa, bicuda, muito difícil. […] E eu tive também uma pequena queda em cima dessas pedras, a uma velocidade muito lenta, mas foi o suficiente para danificar uma costela e criar uma lesão, logo ali na primeira etapa. Também tive um pequeno problema na mota, fruto daquela queda, rompi o depósito de combustível, fiquei a perder combustível. Foi algo muito simples, mas que logo na primeira etapa foi um grande abrir de olhos, porque com algo tão simples, poderia ter ficado tudo em causa. E neste momento, qual é o próximo desafio? Vamos ter no final do próximo mês um rally muito importante em Portugal, é a terceira etapa do Campeonato do Mundo de Rally Raid que, pela primeira vez, se vai realizar em Portugal. É uma competição do género do Dakar, a diferença principal é que nós não temos as etapas no deserto, com todas aquelas dificuldades. Teremos o terreno português e também espanhol, porque uma das etapas será desenrolada na zona da Estremadura, em Espanha. […] Estou muito ansioso, porque aqui em Portugal vamos ter dos melhores pilotos do mundo desta modalidade. Os pilotos que estiveram na frente do Dakar e estiveram a lutar todos os dias pelos melhores lugares vêm a Portugal. Vou ter oportunidade de competir com eles num terreno português, onde eu estou um pouco mais à vontade. […] O meu objetivo será rolar o melhor possível e tentar ser competitivo para conseguir uma boa classificação nesta etapa portuguesa do campeonato do mundo e com isso conseguir aqui brilhar um pouco e orgulhar aqueles que me apoiam.

Como é que perspetiva o futuro? Teremos uma participação no Dakar no próximo ano?

Enquanto estive no Dakar este ano, todos os dias eu pensava que não iria lá voltar. Porquê? Pela exigência, pela dificuldade, por tudo o que acarretou chegar até ali e também pelo risco. Todas as etapas era isso que eu pensava para levar até ao fim e tentar não falhar para não ficar com um obstáculo por ultrapassar. Queria ter aquele feito de realizar o Dakar. Acontece que, a fim de alguns dias, depois de chegar a Portugal, de sentir toda esta força, todo este apoio. […] Fez com que tenha agora um novo projeto para lá voltar e competir. Não tenho ainda a certeza de quais serão os moldes, mas vou fazer tudo para voltar a estar novamente no Dakar de 2025, em janeiro. E será para isso que vou trabalhar ao longo deste ano.

E neste momento, qual é o próximo desafio?

Vamos ter no final do próximo mês um rally muito importante em Portugal, é a terceira etapa do Campeonato do Mundo de Rally Raid que, pela primeira vez, se vai realizar em Portugal. É uma competição do género do Dakar, a diferença principal é que nós não temos as etapas no deserto, com todas aquelas dificuldades. Teremos o terreno português e também espanhol, porque uma das etapas será desenrolada na zona da Estremadura, em Espanha. [...] Estou muito ansioso, porque aqui em Portugal vamos ter dos melhores pilotos do mundo desta modalidade. Os pilotos que estiveram na frente do Dakar e estiveram a lutar todos os dias pelos melhores lugares vêm a Portugal. Vou ter oportunidade de competir com eles num terreno português, onde eu estou um pouco mais à vontade. [...] O meu objetivo será rolar o melhor possível e tentar ser competitivo para conseguir uma boa classificação nesta etapa portuguesa do campeonato do mundo e com isso conseguir aqui brilhar um pouco e orgulhar aqueles que me apoiam.

Quer deixar alguma mensagem aos torrienses?

A minha mensagem à volta deste tema é que acho que as pessoas não se devem minimizar quando se comparam com os outros. Acho que algo que as pessoas sentiram nesta minha participação é que alguém como elas, que tinha uma vida normal, pôde chegar a uma competição como esta e superá-la. […]

É importante as pessoas não se minimizarem, proporem-se às coisas, acreditarem e avançarem naquilo que são os seus sonhos.

Publicado: 29.06.2024 - 12:01 horas
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