Colóquio em Torres Vedras homenageou o arqueólogo alemão Michael Kunst
28.06.2019
Michael Kunst, nome indissociável das escavações arqueológicas realizadas ao longo de décadas no Castro do Zambujal, sítio que foi recentemente intervencionado pela Câmara Municipal, foi homenageado com a realização de um colóquio a si dedicado, no dia 25 de junho, no auditório do Edifício dos Paços do Concelho.
Esta iniciativa contou com cerca de 60 participantes, entre elementos do Centro de Arqueologia da Universidade de Lisboa, da Universidade de Córdova e Granada, da Direção-Geral do Património Cultural, do Instituto Arqueológico Alemão e do Museu Nacional de Arqueologia, entre outros especialistas.
“Paisagem e Arquiteturas” foi o primeiro painel deste colóquio, que teve como comunicações “Geoarqueologia dialética: alguns casos de estudo no sul da Península Ibérica” (proferida por Oswaldo Arteaga, Anna-Maria Roos e Horst-Dieter Schulz), “Organização do espaço e arquitetura do Castro do Zambujal: os contributos da geofísica e da arqueologia da arquitetura” (proferida por Helmut Becker, Rui Parreira e Anne-Sophie Flade-Becker) e “Zambujal, Leceia e os recintos de Moita da Ladra e de Outeiro Redondo: diversidade arquitetónica no terceiro milénio da Estremadura” (proferida por João Luís Cardoso).
A manhã terminou com o painel “Cerâmica Calcolítica e Metalurgia” de que constou as comunicações “O grupo Folha de Acácia: do Zambujal ao Cabeço do Pé da Erra” (proferida por Victor Gonçalves e Ana Catarina Sousa), “A cerâmica na sequência do Castro de Chibanes (Palmela)” (proferida por Joaquina Soares e Carlos Tavares da Silva) e “Que tem a ver um machado de 3 Moinhos com o Zambujal? O Pb altamente radiogénico, a Zom e a Metalurgia do Zambujal” (proferida por António Monge Soares).
A tarde iniciou-se com uma visita ao Castro do Zambujal conduzida por Michael Kunst, tendo no regresso ao Edifício dos Paços do Concelho um conjunto de oradores espanhóis (Fernando Molina González, Martín Haro Navarro, Juan António Cámara Serrano, Gabriel Martínez Fernández, Ángela Suárez Márquez e José Andrés Afonso Marrero) apresentado a conferência “El poblado fortificado calcolítico de Los Militares: Investigación, conservación y difusión”.
A iniciar a sessão de encerramento deste colóquio, Ana Catarina Sousa, Rui Parreira e Elena Morán abordaram “Michael Kunst, o Castro do Zambujal e o Calcolítico do Ocidente Peninsular”, a que se seguiu uma comunicação do homenageado intitulada “Quatro Décadas de Zambujal”.
Nesta, Michael Kunst efetuou uma retrospetiva do trabalho efetuado em torno do Castro do Zambujal, desde as primeiras escavações aí realizadas em 1964, passando pelo trabalho executado no Museu Municipal com o material recolhido naquele sítio, pela realização das I Jornadas Arqueológicas de Torres Vedras, pela exposição apresentada no Museu Nacional de Arqueologia, até ao projeto Sizandro/Alcabrichel (que permitiu compreender onde a costa torriense se situava há cinco milénios atrás). Michael Kunst salientou ainda o facto das escavações no Castro do Zambujal se constituírem como uma grande escola na área da arqueologia, afirmando que “o futuro são os nossos estudantes de hoje”.
Já o diretor do Museu Nacional de Arqueologia, António Carvalho, realçou a projeção internacional do trabalho que tem sido realizado no Castro do Zambujal, o que se tem traduzido na publicação de diversos artigos científicos, tendo frisado a sua relevância na história da arqueologia nacional bem como a singularidade do trabalho do Instituto Arqueológico Alemão em Portugal, que só tem paralelo com o contributo francês.
A concluir este colóquio de homenagem, que se intitulou "Michael Kunst e o Calcolítico do Extremo Ocidente Peninsular: em torno do Castro do Zambujal", o presidente da Câmara Municipal relembrou a já longa relação e colaboração estabelecida com o arqueólogo alemão, que considera ser hoje um cidadão torriense por sentir o Concelho de Torres Vedras como seu. Carlos Bernardes sublinhou na ocasião a importância da recente intervenção de valorização efetuada no Castro do Zambujal, que permitiu que esse espaço fosse doado à comunidade, dignificando-se assim aqueles que viveram no território do Concelho há cerca de cinco mil anos. O presidente da Câmara Municipal referiu também a importância da aquisição de terrenos envolventes ao castro, de forma a dar continuidade aos trabalhos nesse sítio, os quais têm sido realizados, sublinhou, com elevado rigor científico. O edil deixou ainda o desafio de se produzir um livro multilingue sobre o Castro do Zambujal, tendo revelado que pretende candidatar este local a Património Universal da UNESCO.