Exposições relacionadas com o 25 de abril foram inauguradas na Paços
23.03.2017
Duas exposições relacionadas com a “Revolução dos Cravos” foram inauguradas no final da tarde de sábado, dia 18 de março, na Paços – Galeria Municipal.
“Uma nova concepção de luta – documentos e materiais da LUAR e de Palma Inácio no Arquivo Ephemera” foi uma delas. Trata-se de uma mostra documental sobre este movimento de oposição ao regime fascista em Portugal, que dá a conhecer a história do mesmo, dos seus protagonistas, da sua luta armada e de que forma contribuiu para derrubar definitivamente o regime salazarista, sendo que incide de forma particular no líder da LUAR (Liga de Unidade e Acção Revolucionária), o mítico Hermínio da Palma Inácio.
De realçar que esta exposição, cujos documentos provêm do espólio do Arquivo Ephemera, reúne muito material inédito sobre esta organização de luta armada.
Na inauguração desta mostra esteve José Pacheco Pereira, professor, historiador e mentor do Arquivo Ephemera, que referiu a importância do trabalho que está a ser realizado no mesmo para a história recente de Portugal nomeadamente por voluntários.
Antes, o presidente da Câmara Municipal, Carlos Bernardes, afirmara a importância para Torres Vedras de receber esta exposição numa altura em que se começa a assinalar mais um aniversário da “Revolução dos Cravos”.
Fernando Marques, historiador, militante da LUAR e autor do livro que dá nome à exposição, conduziu seguidamente uma visita inaugural à mesma. Enquadrou a ação desta organização que pretendeu destruir a ditadura portuguesa nos seus antecedentes, nomeadamente no célebre assalto ao paquete Santa Maria, que contou com a participação de Camilo Mortágua, que viria a pertencer à LUAR, e no desvio do avião da TAP que fazia a ligação entre Lisboa e Casablanca para distribuição de panfletos oposicionistas, em que participou Palma Inácio.
A vida e a atividade do líder da LUAR, a quem o Times chamou o “homem mais procurado da Europa”, estão, de resto, bem documentadas nesta exposição, com documentos pessoais e o seu célebre cachimbo.
Fernando Marques recordou também a prisão de Hermínio Palma Inácio em 68, aquando da ação de tomada da cidade da Covilhã, a sua célebre fuga da prisão do Porto, e o igualmente célebre assalto à delegação da Figueira da Foz do Banco de Portugal.
No périplo pela exposição foi dando a conhecer comunicados, manuscritos, cartazes, fotografias, jornais e outros documentos da organização, abordando o apoio que a mesma dava no estrangeiro às comunidades portuguesas e, mais concretamente, aos refratários da Guerra Colonial, para além dos assaltos realizados a vários consulados para obtenção de documentação.
Fernando Pereira Marques e José Pacheco Pereira voltarão à Galeria Municipal no dia 21 de abril, pelas 21h30, para a apresentação das edições EPHEMERA.
Anteriormente, e também na Galeria Municipal, fora inaugurada a exposição “João Abel Manta – Obra Gráfica | Caricaturas Portuguesas dos anos de Salazar”.
Trata-se de uma série de célebres cartoons elaborados por este artista, que se constituem como um manifesto de denúncia da atividade do Estado Novo, obra satírico-estética que ficou, de resto, como um marco notável na história do humorismo artístico português.
Nesta mostra, emprestada pelo Museu da Cidade de Lisboa, onde é possível constatar a mestria técnica do autor, apresenta-se um conjunto de 27 obras originais que incluem séries como “Fátima”, “Interrogatório”, “Detenção”, “Camões”, entre outros temas que ilustram a essência da mentalidade, do modo de ser e do imaginário salazarista.
De referir que João Abel Manta, filho da pintora Maria Clementina Carneiro de Moura e do pintor Abel Manta, teve uma infância e uma juventude beneficiadas por um ambiente familiar dominado pelas artes e pela cultura, tendo-se tornado desde cedo um cidadão consciente e um interventor cívico na vida do seu país.
Além de ser um dos maiores nomes do cartoon em Portugal, João Abel Manta é um artista plástico multifacetado, exímio no desenho e na pintura, visionário no design gráfico e na ilustração.
Ambas as exposições integram-se no programa comemorativo da “Revolução dos Cravos” do Município e estão patentes até 29 de abril.