Livro "JOC – Actividade Jocista"
01.09.2018
Fundo: Juventude Operária Católica (J.O.C.)
Título: Actividade Jocista
Data: 1939 - 1943
Dimensão e Suporte: 1 livro
Cota: cx. 1, n.º 5
A Juventude Operária Católica (J.O.C.) surgiu em 1925, na Bélgica, por iniciativa do padre Joseph Cardijn e de um grupo de jovens trabalhadores e trabalhadoras, que pretendiam o fim da situação intolerável do trabalho e das condições de vida da juventude dos meios operários e populares, e também diminuir a distância entre a Igreja e o mundo operário.
De acordo com os Estatutos da Juventude Operária Católica, publicados em 1935, ano em que a J.O.C. chegou a Portugal, os jocistas eram rapazes com idades compreendidas entre os 14 e os 30 anos, sem filiação em organismos políticos, sem profissões liberais e, caso estudassem, que frequentassem os cursos médios das escolas técnicas.
O Arquivo Municipal de Torres Vedras reuniu cartas, relatórios, atas, boletins, inquéritos e programas pertencentes à Secção de Torres Vedras da Juventude Operária Católica no período cronológico entre 1938 e 1969. Entre a documentação, destaca-se o livro JOC – Actividade Jocista, no qual dois militantes, Carlos Jorge Avelino e Adão Avelino de Carvalho, resumiram, de forma ligeira e despretensiosa, os passeios e saídas dos jocistas da então vila entre 1939 e 1943, muitas vezes de jerico, outras vezes de bicicleta, a pé ou mesmo de comboio.
Tratam-se de descrições pormenorizadas, diferentes das atas das reuniões semanais – mais formais e regradas –, que nos permitem perceber o tipo de atividades a que se dedicavam os jovens operários católicos torrienses, nomeadamente os compromissos religiosos, como os retiros espirituais, a peregrinação a Fátima ou a passagem da imagem de Nossa Senhora de Fátima por Torres Vedras; os atos beneficentes, como a ajuda nas obras da Igreja do Vimeiro ou a récita de beneficência na Moçafaneira; os acampamentos, que eram frequentemente relatados com apontamentos humorísticos: “Foi nosso cozinheiro o Senhor Augusto Alfaiate, homem com muita habilidade e muito ligeiro, pois para cozer meia dúzia de batatas demorou apenas 2 horas” ou mesmo “e aí esperaram pelos outros concorrentes que se atrasaram e afinal não pelos seus azares, mas sim por pararem e irem à uva; é claro que não se diz nada a ninguém porque podemos ser presos.” As descrições evocam ainda momentos de confraternização desportiva, como o jogo de futebol na Serra da Vila e com o Sport Clube Livramento; os passeios à praia da Areia Branca - “fomos então tomar banho o qual nos soube muito bem, pois o mar estava tão quentinho que até arripiava os cabelos” - e à Praia de Santa Cruz - “Daqui fomos para a praia, tomámos banho e tivemos lá até ao meio dia, fomos almoçar num areal perto de Santa Cruz. Quando acabámos de almoçar fomos pela beira do mar apanhar conchas para trazer de recordação aos nossos irmãos mais miúdos”.
Com efeito, a leitura do livro permite a investigadores e curiosos conhecerem a forma como militantes, pré-jocistas e simpatizantes, em grupos reduzidos ou mais alargados, ocupavam o seu tempo e o quão unidos e entusiasmados eram nos passeios, retiros e acampamentos, como Carlos Jorge Avelino fez questão de frisar: “houve mais pontualidade na malta da carroça, pois apareceram antes das 7 horas, mas tudo isto por lhes cheirar a paródia quando não levantavam-se ao meio dia”.
Por fim, de forma a complementar o conhecimento relativo à J.O.C., aconselha-se a consulta de toda a documentação referente à Juventude Operária Católica existente no Arquivo Municipal, num total de sete livros e vinte e nove capilhas, e também dos dois livros e das doze capilhas pertencentes à Juventude Operária Católica Feminina, que também teve alguma expressão em Torres Vedras entre os anos 30 e 60 do século passado.
Paula Correia da Silva