Torres Vedras

Livro relativo a hospital provisório instalado na Ponte do Rol

27.01.2021

TÍTULO: Livro que serve de lansar toda a despeza relativa a Ospital que por ordem de Sua Magestade Fidelíssima se estabeleceo no lugar da Ponte do Rol e com todos os mais doentes daquelle destrito desde o dia 7 de Fevereiro de 1795

DATAS EXTREMAS: 1795 - 1798

UNIDADES DE INSTALAÇÃO: 1 livro

 

 

A 11 de fevereiro de 1795, a vereação da Câmara Municipal reuniu-se nos Paços do Concelho uma vez que o médico da Câmara, o Doutor Manuel Tavares de Macedo, estava muito preocupado com o aumento exponencial de doentes e de mortes no lugar de Ponte do Rol.

No Arquivo Municipal de Torres Vedras está disponível para consulta um livro manuscrito intitulado Livro que serve de lansar toda a despeza relativa a Ospital que por ordem de Sua Magestade Fidelíssima se estabeleceo no lugar da Ponte do Rol e com todos os mais doentes daquelle destrito desde o dia 7 de Fevereiro de 1795 que, apesar do que o título indica, não se limita às despesas do hospital e não se refere apenas à epidemia de Ponte do Rol.

Pouco se sabe sobre a sintomatologia e sobre as causas desta epidemia, mas os estudiosos chamaram-lhe febres malignas que provavelmente terão surgido em novembro de 1794 como consequência da alimentação pouco saudável das populações e propiciada pelas más condições dos enterramentos feitos dentro da Igreja Matriz de onde saía, como testemunhou o médico, “hum ascuroso cheiro de curruçam dos corpos que se enterravam nas mal profundadas sepolturas”.

Perante tais informações, e numa tentativa de reduzir o risco de alastramento a mais pessoas e a outras localidades, a Câmara deliberou que os seus médicos e cirurgiões assistissem alternadamente os doentes; que o pároco da freguesia de São Tiago benzesse os corpos dos falecidos num baldio, proibindo os enterramentos e o culto dentro da Igreja Matriz, cujas portas e janelas deveriam estar abertas dia e noite para arejar; e que se fizessem defumações diárias com alcatrão e rosmaninho na igreja, na casa dos enfermos e nas ruas do lugar de Ponte do Rol. A par da Câmara, também a Coroa tomou as suas medidas, mandando construir um hospital provisório, que funcionou numa casa de habitação pertencente ao alferes João Bernardes e à sua esposa Maria Micaela, falecidos recentemente.

Assim, nas primeiras páginas do livro foram assentados pelo escrivão da Câmara, Miguel Germano Barreto de Pina, onze mapas – ou listagens – com as despesas semanais e o número de doentes que se registaram ao longo do período compreendido entre 11 de fevereiro e 9 de maio. Como vimos, a alimentação era considerada um aspeto fulcral na cura dos doentes e, por isso, todas as semanas se compravam galinhas, carne de vaca, carne de carneiro, pão e, em menor quantidade, açúcar, azeite e vinagre. As despesas com a compra de rosmaninho, com o juiz de vintena e com os homens que transportavam a medicação vinda das boticas de Francisco Tavares Peres e Manuel Nunes Ribeiro eram também registadas, mas, lamentavelmente, o tipo de remédios utilizados para a cura desta maleita nunca é especificado.

Apesar dos esforços conjuntos para que a epidemia não se disseminasse para outros lugares, acabou por chegar a São Pedro da Cadeira, mas não de forma tão grave, pois nunca se listaram mais de 5 doentes por semana nos seis mapas semanais elaborados entre 12 de março e 28 de abril.

Fazendo jus ao titulo do livro, também foram assentadas as despesas com o hospital provisório, para o qual foram necessários os mais diversos materiais como tábuas, pregos, lençóis, travesseiros, cobertores, alguidares e penicos, que permitiam acomodar e tratar os doentes o mais confortavelmente possível.

Além da transcrição das despesas e documentos oficiais relativos à epidemia de 1795, o escrivão copiou também os autos, as portarias e os avisos referentes à epidemia que assolou, em 1798, os lugares de Abrunheira e Ameal, na freguesia de São Lourenço do Ramalhal, de Ermegeira, na freguesia de Santa Susana do Maxial, e de Monte Redondo, na freguesia do Espírito Santo.

Neste caso, ao contrário do que tinha acontecido com a epidemia da Ponte do Rol, foram registados os nomes de todas as pessoas que adoeceram e que foram assistidas pelos médicos da vila de Torres Vedras e pelo enfermeiro da Santa Casa da Misericórdia. O cuidado na variedade de alimentos é outra das grandes diferenças face a 1795, uma vez que, além dos alimentos disponibilizados aquando da primeira epidemia, também se disponibilizavam laranjas, vinho, cerejas, leite para soros e marmelada aos doentes.

 

Última atualização: 02.06.2023 - 15:48 horas
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