Marian van der Zwaan
21.12.2023
Marian van der Zwaan é uma artista visual holandesa que vive em Torres Vedras há mais de 20 anos. “Torres Vedras é o único sítio onde eu vivi tanto tempo da minha vida, nem na Holanda vivi tanto tempo. Para mim Torres Vedras é casa”, conta com um sorriso.
Foi aos 26 anos e depois de ser mãe, que a artista “finalmente tinha tempo para fazer aquilo que queria” e foi estudar para a Faculdade de Belas Artes, em Haia, na Holanda.
Os direitos humanos, a discriminação de género e de grupos étnicos estiveram desde início presentes nas suas obras. Sobre o processo criativo explica que a inspiração “surge no momento em que eu vejo injustiças” e as obras têm como propósito “tentar chamar a atenção sobre os temas”.
“Uma coisa que está sempre presente nas minhas obras é a cor vermelha, sempre vermelho ou branco, são as únicas cores que eu trabalho”. Para além das cores, existem duas formas que marcam o trabalho da artista: o corpo feminino e as mãos.
As instalações de Marian van der Zwaan são, normalmente, de grande escala e ocupam o espaço público. “Uma pessoa pode não gostar [da obra], mas não vai ficar indiferente e assim eu tento passar a minha mensagem”, explica. A artista procura ainda explorar o mesmo tema em diferentes países, observando como é que cada cultura intervém sobre o mesmo assunto.
A Penny for your Thoughts foi um dos projetos internacionais que desenvolveu para aumentar a conscientização sobre o tráfico humano na prostituição. Consistiu na afixação de cartazes provocadores com números de telefone em seis cidades europeias (Bruxelas, Sofia, Dublin, Paris, Lisboa e Bucareste). Ao ligar para os números, era possível ouvir a história de uma vítima, contada na primeira pessoa, e deixar uma mensagem.
“Foi aí que eu percebi que estamos aqui com um problema, porque o homem vê a mulher como um objeto, ela não é humana. Então eu pensei: ‘tenho que ir para as escolas’”. Surgiu, assim, o Escritório, um mercedes vermelho onde os alunos deixavam a sua marca e ouviam a história de vida de uma mulher vítima de tráfico humano para fins de exploração sexual. “Este carro foi para muitas escolas, comigo sempre a trabalhar com os alunos, e fizemos um inquérito antes e depois. Conseguimos que 75 % dos rapazes mudassem de opinião sobre a prostituição. Isto para mim foi uma vitória gigante”, conta com orgulho.
Outro dos projetos internacionais de Marian van der Zwaan é o Red String, que visa sensibilizar para a exclusão social, a discriminação e a integração, através do confronto e do debate público. O conceito do projeto são 12 km de fio vermelho, onde a arquitetura da instalação se adapta às condições de cada local. O mesmo fio é construído, amarrado e desamarrado, levando cada história para o próximo local.
Esta instalação foi apresentada em Torres Vedras para assinalar os 20 anos de Rede Social. “Eu acho que foi ótimo ser aqui no Átrio [do Edifício Multisserviços da Câmara Municipal de Torres Vedras], porque é um espaço público onde toda a gente vai ter que passar. A parte mais importante desta obra é que as mãos aqui puxam a corda, isto está tudo ligado à Rede Social de Torres Vedras”, remata.