Marta Maçarico
22.11.2024
Marta Maçarico lembra-se de vir a Torres Vedras frequentemente em criança. Para comprar roupa, material escolar, de fim de semana, mas nunca viveu no Concelho. Como acabou por ter no Concelho o seu atelier de joalharia desde 2022 foi o resultado da abertura e oportunidades que lhe deu Torres Vedras. “Uma amiga falou-me na associação Incluir+, que me permitiu ter um espaço. Isto foi em outubro e, logo em dezembro, o Mercado de Natal proporcionou-me visibilidade. Houve sempre muitos convites”.
Quem conhece o seu trabalho entende porquê. Marta produz peças personalizadas, cheias de significado. Muitas, como as alianças, podem ser feitas a partir de peças de ouro que os noivos receberam em crianças ou itens de família que vão ser transformados para dar origem a algo novo. É muitas vezes o próprio casal a fazer as alianças na oficina, com a ajuda da Marta, que explica que as peças feitas de modo artesanal têm características próprias. Faz parte. São as suas irregularidades que lhes dão um caráter único.
Nessa oficina, que Marta partilha com a estilista Sara Crux, são feitos também brincos, colares, conchas de batismo e acessórios de mesa, como argolas de guardanapos ou anéis para garrafas. Todos os natais, Marta apresenta uma nova criação para a época, pensando no que podem ser boas prendas a oferecer.
Das suas matérias-primas fazem parte o ouro, a prata, mas também o latão. E as pérolas, que lhe lembram a sua avó Albertina, a sua fonte de inspiração. “A minha avó era aquela mulher que eu via sempre arranjada, que colocava o colar de pérolas e um batom quando saía de casa”. Era costureira, vestia roupas impecáveis “que lhe assentavam maravilhosamente bem. O termo é mesmo: aperaltada”, esclarece Marta. O objetivo com as pérolas, recorrendo muitas vezes à diferenciação pela cor, passa por desmistificar a ideia de que são usadas sobretudo por pessoas mais velhas.
Da avó herdou o dom da conversa, com orgulho. O jeito para as artes, isso já não sabe a quem foi buscar. Até ao 9º ano estudou em Alenquer e o Ensino Secundário fez com especialização em joalharia na Escola Artística António Arroio em Lisboa, seguindo depois para a Fundação Ricardo Espírito Santo para tirar a Licenciatura em Conservação em Restauro. Foi a primeira da família a seguir os estudos e confessa que tê-lo feito em artes causou estranheza. Mas fê-lo e sempre teve trabalho. Mesmo agora, em que se concentra mais na joalharia, não deixa de parte o restauro, sendo esta também uma área que a apaixona e que não quer deixar de lado.
Apesar de “não ser muito de redes sociais”, é aí também que promove os seus produtos e serviços e onde o público primeiro a encontra. Ao primeiro contacto, segue-se normalmente uma conversa mais longa, para conseguir perceber melhor o objetivo. É a proximidade que permite a Marta ir ao encontro das expectativas dos seus clientes e fazer parte das suas histórias bonitas, que emocionam. “Há situações de pessoas que perderam a mãe, a avó, ou têm uma amiga especial que não pode estar presente numa data importante e que querem representar através de uma joia”. Nesses casos, é necessário pegar na peça e desconstruí-la. “Não é derreter, mas transformá-la, fazendo de uns brincos um acessório para cabelo, ou de uma corrente uma pulseira, por exemplo”. É uma forma de sustentabilidade e de economia.
No futuro da Marta Maçarico estão oficinas, exposições, joias bonitas e a continuação do sentimento de gratidão que tem, por conseguir viver da sua arte.