O Primeiro de Maio
01.05.2013
As longas jornadas de trabalho árduo, de sol a sol, de 16 horas e mais, muitas vezes marcado pelo ritmo das máquinas, e as deficientes condições de trabalho do operariado emergente da Revolução Industrial intensificaram-se ao longo do século XIX. As condições de vida dos operários agravavam-se, transformando-se as máquinas, causadoras de vários despedimentos, assim como a burguesia ascendente, detentora dos bens de produção, nos alvos preferidos da sua contestação, reivindicando melhores condições de vida, entre as quais a redução do horário de trabalho. Os operários consideravam o modo de organização dos meios de produção como uma exploração dos trabalhadores pelos detentores do capital, que procuravam, sobretudo, a obtenção do máximo lucro, situação a que não escapavam as mulheres e as crianças. As ideias revolucionárias de K. Marx e F. Engels, publicadas no Manifesto do Partido Comunista, em 1848, davam voz e ofereciam uma resposta de esperança aos descontentes, apontando o caminho, sintetizado na célebre exortação: «Proletários de todo o mundo, uni-vos!».
Em 1866, o Congresso de Genebra da 1.ª Internacional estabelecia o objetivo de limitar a jornada de trabalho a 8 horas, adotando a divisão racional do dia em 3 períodos: 8 horas de trabalho, 8 horas de descanso e 8 horas de atividades de leitura e educação. Neste contexto, a Federação dos Trabalhadores dos Estados Unidos e Canadá, na conferência anual de 1885, convocou uma greve geral para o dia 1 de Maio do ano seguinte, à qual aderiram centenas de milhares de trabalhadores. Na sequência desta data, que assinala simbolicamente as origens do 1.º de Maio, teve lugar, três dias depois, um comício realizado em Chicago, onde foi colocada uma bomba que causaria várias mortes a par dos muitos feridos. Centenas de sindicalistas foram presos, entre os quais 8 dirigentes, sendo sete condenados à pena de morte. Todavia, milhares de operários conquistaram a redução do horário de trabalho, tendo cerca de 50 mil alcançado o objetivo da jornada de 8 horas. Em 1889, os representantes dos movimentos socialistas dos diversos países, reunidos em Paris, decidiram internacionalizar o 1.º de Maio, declarando-o dia de luta do proletariado, pela jornada de trabalho de 8 horas, marcando manifestações simultâneas para o ano seguinte.
Em Portugal, desde 1890, também o operariado comemorava o 1.º de Maio, reivindicando a jornada de 8 horas de trabalho e melhores condições de vida, até que, após a manifestação de 1 de Maio de 1919, os trabalhadores da indústria e do comércio conquistaram a jornada de oito horas pelos, reduzindo-se a semana a 6 dias de trabalho. Conquista obtida pelos operários tabaqueiros logo em Março de 1891, que os trabalhadores agrícolas só alcançariam em 1962. A manifestação do 1.º de Maio permitiria honrar os heróis caídos em combate contra o capital (culto dos heróis, nomeadamente os difusores das ideias socialistas no nosso país e os defensores da dignidade do operariado, entre os quais José Fontana, considerado o fundador do movimento operário português), afirmar as reivindicações operárias e comemorar a festa do trabalho. A partir de certa altura, começaram a predominar os cortejos a as manifestações festivas, sendo as ruas das vilas e cidades percorridas pelas bandas musicais tocando o hino 1.º de Maio e A Internacional, às quais se juntariam cortejos de carros alegóricos das várias atividades produtivas.
Apesar dos esforços para impedir as comemorações do 1.º de Maio durante o Estado Novo, estas continuaram a ter lugar. Todavia, após a Revolução de 1974, o 1.º de Maio tornara-se feriado nacional, sendo esta uma das primeiras conquistas de Abril. A organização coube à Intersindical, fundada em 1970, que consagrou popularmente o 25 de Abril, por todo o país, onde, nas diversas vilas e cidades, o povo saiu à rua, como aconteceu na então vila de Torres Vedras. Foi ponto de encontro a Avenida 5 de Outubro, em frente da Associação de Educação Física e Desportiva, com discursos de Francisco Manuel Fernandes, João Carlos, Andrade Santos, Venerando de Matos e Rui Moura Guedes.
Carlos Guardado da Silva