Os cavalos de Torres Vedras
01.07.2013
Naquela altura, falamos de 1992/93/94, (já nem me lembro...) toda a minha pesquisa formal se direccionava para o cavalo e as várias formas de o representar. De início investiguei a anatomia, a harmonia e as proporções em desenho. Fiz esbocetos em barro, apontamentos em cera. Lembro-me de ter modelado um centauro, que passei a resina de poliester e fibra de vidro, e várias explorações formais em pedra de Lioz talhada directamente onde tirava partido da sensualidade das metáforas que definia como conceitos a desenvolver em escultura.
No primeiro cavalo que fiz em ferro utilizei restos de material que encontrei na oficina de metais, na então Escola de Belas-Artes de Lisboa onde estudava. Estava no quarto ano do curso. O metal cativou-me pela relação que mantinha com o desenho, na possibilidade de materializar tridimensionalmente as linhas que normalmente inscrevia nas folhas de papel e pela simplicidade de execução que me permitia executar formas de grandes dimensões.
Por outro lado, as esculturas em varão de aço eram leves, leves no sentido de peso físico, o que me permitia manipulá-las facilmente no meu espaço de trabalho, e eram leves visualmente. As esculturas que fazia como que se diluiam no ambiente onde se integravam, obrigavam o observador a olhar mais atentamente construindo mentalmente a totalidade da forma que iam descobrindo aos poucos, com esforço. O varão de aço de oito milímetros passou a ser o meu material de preferido, a máquina de soldar o meu lápis e o espaço aberto a minha folha de papel.
Hão de haver mais cavalos, a manada é grande, mas só os que estão no espaço relvado podem ser vistos, os restantes estarão por lá, fundidos com o ambiente. Memórias que não se vêem mas que se sabem.
Os cavalos de Torres Vedras são o meu último trabalho de três que realizei nessas dimensões e dentro da mesma temática. É uma rotunda elipsoidal e a minha ideia foi trazer um pouco da ambiência do campo aos limites da cidade, uma manada de cavalos que circula descontraída e livremente por ali como em tempos terão vivido. Hão de haver mais cavalos, a manada é grande, mas só os que estão no espaço relvado podem ser vistos, os restantes estarão por lá, fundidos com o ambiente. Memórias que não se vêem mas que se sabem.
João Castro Silva
28/05/2013
Cavalos
- Localização: Rotunda da R. Dr. Aurélio Ricardo Belo (junto Bairro Vila Morena)
- Data de instalação: 2000
- Autoria: João Castro Silva (1966 - )
João Castro Silva
- Nasce em 1966 em Lisboa
- 1992 -Licenciado em Escultura. FBAUL
- 1994 -Frequência do Curso "Bronze Casting" Royal College of Art– Londres
- 2001 -Mestre em História da Arte, ULL
- 2010 -Doutor em Escultura, FBAUL
- É Professor Auxiliar do curso de Escultura na FBAUL
- Expõe desde 1991 e indivudualmente desde 1996
Prémios
- 1993 -1º Prémio no Concurso "Os Jovens e a Arte", CMA
- 1998 -2º Prémio do “ll Simpósio Internacional de Escultura em Ferro de Abrantes”.
- 1999 -Menção Honrosa -Prémio Fundação Calouste Gulbenkian- no "lll Concurso de Jovens nas Artes -Francisco Wandscheider" Culturgest, Lisboa.
- 2005 -Prémio Doutor Gustavo Cordeiro Ramos. Academia Nacional de Belas Artes.
Trabalhos em locais públicos
- Rotunda da Areia - Quinta da Marinha, Cascais
- Área de Serviço Repsol - Auto-Estrada do Oeste, sentido Norte / Sul.
- Edifício sede da B.Braun Medical LDA, Queluz de Baixo.
- Fábrica da Cultura, Amadora.
- Rotunda viária no Bairro da Vila Morena, Torres Vedras.
- Parque do Alto de Sto. António, Abrantes.
- Montauban, França.
- Montjean-sur-Loire, França.
- Igreja de S. José Carpinteiro, Catujal, Loures.
- Centro Cultural Eng. Adolfo Roque, Barro, Águeda.
- Parque da Lavandeira, Oliveira do Douro/ Gaia.