Torres Vedras, o passado e o presente de uma “cidade com futuro”
01.10.2019
“Torres Vedras: 40 anos de uma cidade com futuro” foi a conferência que decorreu na Feira de São Pedro, no dia 7 de julho, no auditório da Agência Investir Torres Vedras, no Pavilhão Multiusos do Parque Regional de Exposições.
A conferência assumiu-se como um momento de reflexão e partilha sobre as quatro décadas da elevação de Torres Vedras a cidade, tendo contado com moderação de Carlos Bernardes, presidente da Câmara Municipal, que começou por lembrar que a conferência decorria à margem dos 726 anos da Feira de São Pedro.
O papel ativo dos jovens neste território esteve em destaque na intervenção de Tomás Fernandes, presidente da Associação de Estudantes da Escola Secundária Madeira Torres. O dirigente estudantil apontou as zonas de lazer, os clubes desportivos e as escolas como locais de referência para os jovens do Concelho e não teve dúvidas ao afirmar que “é um orgulho fazer parte da juventude de Torres Vedras, que é tão diferente” e que se destaca a nível nacional, com prémios arrecadados nas mais diversas áreas.
Do tempo presente para o período da ditadura fascista, coube a Francisco Manuel Fernandes, presidente da primeira Comissão Administrativa do Município após a Revolução dos Cravos, recordar as dificuldades colocadas ao movimento associativo antes do 25 de Abril. No que toca à vivência em Torres Vedras, recordou tempos em que “a Rua 1º de Dezembro tinha três adegas”, e em que a “zona urbana, a sul, terminava pouco depois das traseiras da Igreja da Graça”, lembrando que “o Largo do Grilo foi um dos primeiros centros de Torres Vedras.” Uma realidade bem diferente da atual já que “hoje, Torres Vedras não tem um, mas sim vários centros”.
Francisco Manuel Fernandes recordou que, em 1979, “acabou uma vila que não era uma aldeia ‘plantada’ no Oeste. Era uma vila histórica, que reza nos Lusíadas.” Foi nesse sentido que Sérgio Simões, relator do projeto de Lei da elevação a cidade, recordou a rivalidade entre Torres Vedras e Caldas da Rainha (com categoria de cidade desde 1927), que se assemelhava à rivalidade “entre a Física e o Sporting de Torres há 30 anos.”
O papel dos torrienses
Num período em que ainda não existiam critérios definidos para a elevação das vilas a cidades, a verdade é que “não se faria nenhum favor a Torres Vedras” ao igualá-la às restantes cidades do país. Sérgio Simões destacou a aliança entre a história e as condições económicas, sociais e culturais e sublinhou a ideia de que “quem fez Torres Vedras cidade, e quem fez da cidade aquilo que é hoje, foram os torrienses”. Num período em que as estradas eram, maioritariamente, em terra batida e em que água e energia estavam longe de chegar a todas as habitações, havia comunidades que viviam em completo isolamento. “As necessidades… era tudo. No fundo, não havia nada” sublinha. “O que havia de bom, na altura, eram as pessoas.”
A importância das gentes de Torres Vedras foi, também, posta em evidência por Susana Félix. Foi aqui que deu início à sua carreira artística, num tempo em que “estavam todos ocupadíssimos a fazer um concelho, em que havia tudo por fazer e em que a cultura era a última coisa a pensar”. Sobre essa época, recordou, “uns iam abrir valas para os canos e outros iam fazer teatro e organizavam todos os miúdos que tinham jeito e gostavam de cantar e representar”, para concluir que “assim acontecia a cultura neste Concelho.”
Há alguns anos, a cantora e compositora regressou a “casa”, depois de cerca de 20 anos em Lisboa. Ao constatar que “a qualidade de vida é imensa”, o sentimento foi de orgulho. Até porque, destaca, “conseguimos ser pioneiros numa série de áreas, mas guardar a nossa identidade.” E destacando o “peso e responsabilidade que as músicas podem ter”, o Samba da Matrafona assumiu-se como o seu contributo para o Carnaval de Torres Vedras, com uma letra “que torna este samba nosso.”
A conferência, que decorreu no último dia da Feira de São Pedro, fechou com uma questão que desafiou os participantes a refletir sobre o futuro de Torres Vedras daqui a dez anos. As perspetivas destas diferentes gerações uniram-se em torno de um desenvolvimento que tenha como base a sustentabilidade ambiental, em que exista equilíbrio entre a atração de investimento e a preservação da identidade local, e em que a cultura e o turismo assumam um papel cada vez mais fulcral.
Rita Santos