Vítor Alves
20.11.2024
Recentemente, no âmbito do seu programa comemorativo do 50.º aniversário da “Revolução dos Cravos”, o Município prestou homenagem, de forma a dar cumprimento a uma moção aprovada em Assembleia Municipal, ao coronel Vítor Alves, atribuindo o nome deste já falecido militar a uma rua em Torres Vedras, que liga a Avenida Carlos Lopes à Rua Fernando Barros Ferreira Leal (a qual se situa num espaço que pertenceu à Fundição de Dois Portos). Mas quem foi Vítor Alves?
Vítor Manuel Rodrigues Alves foi um dos “capitães de Abril”, ou seja, foi um dos oficiais que esteve envolvido no golpe militar de 25 de Abril de 1974, que pôs fim ao Estado Novo e assim ditou o fim de praticamente 48 anos de ditadura em Portugal.
Nascido em Mafra a 30 de setembro de 1935, veio na sua infância morar para Torres Vedras, depois de uma breve passagem por Vila Franca de Xira. A residência da sua família situava-se no 1.º andar do n.º 28 da Rua Conde Tarouca, sendo que em Torres Vedras o seu pai exerceu as funções de escriturário da Junta Nacional dos Vinhos e a sua mãe as de funcionária nos CTT. Vítor Alves tinha cinco irmãos, dois dos quais nasceram em Torres Vedras. Em 1968 dá-se o falecimento do seu pai, tendo nesse ano a família de Vítor Alves deixado Torres Vedras para se fixar em Oeiras.
Quando tal acontece já Vítor Alves deixara há muito Torres Vedras. De facto, em 1954, depois de aqui terminar os estudos secundários, ingressa na Escola do Exército, iniciando um percurso que teve como ponto alto a sua participação no 25 de Abril.
A passagem de Vítor Alves pela então vila de Torres Vedras é abordada na biografia que Carlos Ademar lhe dedica (o livro Vítor Alves – O homem, o militar, o político), na qual são recordados alguns dos professores que lecionaram na Escola Secundária Municipal (como José Carvalho Mesquita, Albarran Grilo, Carlos Dieguez e João Carlos Cunha).
Já na Escola do Exército, hoje denominada de Academia Militar, Vítor Alves fez o curso de infantaria, tendo, posteriormente, participado na Guerra Colonial, onde combateu em duros cenários deste conflito bélico, nomeadamente em Angola e Moçambique. Apercebendo-se da relutância do governo português para encontrar uma solução política pacífica para a Guerra Colonial, acaba por ser um dos membros da comissão coordenadora do Movimento das Forças Armadas, tendo sido um dos principais responsáveis pela redação do programa político do mesmo, o qual negociou com a Junta de Salvação Nacional.
Após o sucesso da Revolução de Abril seria empossado ministro sem pasta nos II e III governos provisórios, sendo que, como membro dos mesmos, tutelando a área da Comunicação Social, foi responsável pela aprovação da primeira lei de imprensa pós-25 de Abril, a qual vigorou até 1999. Posteriormente faria parte do VI Governo Provisório, no qual, como ministro da Educação e da Investigação Científica, foi responsável pela criação das universidades da Madeira e dos Açores, bem como da Universidade Aberta.
Não obstante o seu perfil discreto, Vítor Alves não só teve contudo um papel relevante no “movimento dos capitães”, que conduziu à “Revolução dos Cravos”, como também no período que se seguiu à mesma, já que foi um dos membros do Grupo dos Nove, o qual encarregou o então tenente-coronel António Ramalho Eanes de neutralizar uma eventual tentativa de golpe por fações extremistas das Forças Armadas, que se veio a verificar a 25 de novembro de 1975.
Também durante o período do PREC (Processo Revolucionário em Curso) foi nomeado para o Conselho da Revolução (entidade que sucedeu à Junta de Salvação Nacional), do qual foi porta-voz entre 1979 e 1982.
Foi em 1982 um dos fundadores da Associação 25 de Abril, tendo no ano seguinte recebido a Grã-Cruz da Ordem da Liberdade.
Ainda na década de 1980 seria candidato a eleições legislativas (em 1985), à presidência da Câmara Municipal de Lisboa (em 1986) e a eleições europeias (em 1989).
De referir também as atividades cívicas desenvolvidas por Vítor Alves em prol da defesa da comunidade portuguesa no mundo, bem como de um bom relacionamento de Portugal com as suas antigas colónias.
Vítor Alves faleceu a 9 de janeiro de 2011 em Lisboa.