Alberto Avelino
30.10.2017
Alberto Avelino
(26.11.1940-29.08.2017)
Uma das definições da história foi-nos legada pelo historiador francês Marc Bloch (1886-1944), que a definiu como “a ciência dos homens no tempo”. Se assim é, como cremos, ao invés do que temos trazido, dedicamos estas duas páginas da rubrica ‘Identidade’ a um desses homens – Aberto Avelino.
De nome Alberto, nasceu em Fonte Grada, em 26 de novembro de 1940, aldeia em que viu chegar a luz elétrica, com a idade de 14 anos. Desenvolveu, como alguns jovens da sua idade, os estudos, tendo, a partir do 5.º ano, continuado os mesmos no horário noturno, enquanto de dia trabalhava como operário na Casa Hipólito, essa grande escola de democracia. Isento do serviço militar, não deixou de ser um combatente, de ideias e de causas. Não esteve na Guerra de Ultramar, como muitos dos jovens do seu tempo, mas foi este conflito que lhe despertara a consciência para a sua ação política. Na sua formação superior, obtida na Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, optou definitivamente pela Licenciatura em Filologia Germânica e em Ciências Pedagógicas para exercer, como muitos do seu tempo, a profissão, isto é, ser professor. Formação que completaria com a obtenção do High certificate of English, do Instituto Britânico.
Com o 25 de Abril, acontecimento a que assistiu no Terreiro do Paço, Alberto Avelino tornou-se um servidor da res publica. Foi deputado à Assembleia Constituinte (02.06.1975-02.04.1976), nesse período, como o próprio designara de “águas revoltas”, tendo participado nos trabalhos para a elaboração da Constituição da República Portuguesa (10.04.1976). Depois, Torres Vedras chamou por si, tornando-se no primeiro presidente da Câmara Municipal eleito após o 25 de Abril, em 12 de dezembro de 1976, pelo Partido Socialista, num tempo que o poder local, sem infraestruturas e sem recursos humanos, materiais e financeiros, dependia do poder central, ainda muito concentrado na Junta Distrital de Lisboa. Um tempo em que faltava tudo e os membros do executivo a tempo inteiro se reduziam à figura do Presidente. Num tempo em que ao poder local se reclamava o terceiro dos DDD de Abril, o D do Desenvolvimento, mas para o qual não havia dinheiro, atrasando o saneamento básico, o abastecimento de água potável, a melhoria dos caminhos e a eletrificação rural. Num tempo em que o poder local se consolidara apenas com a Lei das Finanças Locais de 1979 (Lei n.º 1, de 2 de janeiro).
Deixou o cargo de presidente da Câmara Municipal de Torres Vedras, a 6 de setembro de 1983, para voltar à Assembleia da República, como deputado, condição que manteria ao longo de 12 anos, da III à VI legislaturas, entre 31 de maio de 1983 e 26 de outubro de 1995. Destaquemos, neste período, a sua presidência de uma Comissão parlamentar sobre administração do território, equipamento social, poder local e ambiente, assim como a apresentação das iniciativas legislativas que levariam à elevação da localidade de A dos Cunhados à categoria de vila, bem como à criação da freguesia de Maceira, entretanto agregada pela reorganização administrativa de 2013 (Lei n.º 11-A, de 28 de janeiro).
Depois, foi nomeado Governador Civil de Lisboa, cargo que desempenhou entre 1995 (tendo tomado posse a 16 de novembro) e 2002. Neste mesmo ano, voltou definitivamente a Torres Vedras para ocupar o cargo de presidente da Assembleia Municipal, para si o órgão democrático local por excelência, cargo que manteria até 2017, o mesmo cargo que manteve entre 1986 e meados da década de 90, cujo despacho preferia fazer no Arquivo municipal, em detrimento do seu Gabinete.
Alberto Avelino integrou, ainda, os órgãos sociais de diversas entidades e associações, das quais lembramos aqui apenas o de membro da Mesa da Assembleia Geral da Caixa de Crédito Agrícola Mútuo de Torres Vedras e de Presidente da Mesa da Assembleia Geral da Associação para a Universidade da Terceira Idade de Torres Vedras (AUTITV).
Aqui foi professor, a sua grande paixão, que partilhava com a de autarca. Por estas duas vias aproximava-se das pessoas, realizava-se o homem, o humanista, o cultor da língua portuguesa, mas também da alemã e da inglesa, que dominava, assim como a sua Gramática. E no diálogo com as pessoas, Alberto Avelino sabia escolher sempre o melhor adjetivo.
Duas páginas apenas é de facto um espaço muito curto para ser preenchido por um Homem Grande, expressão que retomamos do século XIX, um homem no tempo na expressão de Marc Bloch, mas também de olhos postos no futuro, para quem a história era o futuro. Um seguidor de Tocqueville, pensador político e historiador francês, defensor da liberdade e da democracia. Um homem que que lia o mundo através do mundo dos livros, como apaixonado que era dos clássicos da literatura portuguesa e europeia, mas também através da sua observação atenta. Por tudo isto, Alberto Avelino foi tudo na vida – Operário, Político, Cidadão, Humanista, Marido, Pai, Avô, Amigo… Hoje, diremos apenas, foi um Homem!
Carlos Guardado da Silva