João Henriques
01.04.2022
“Era miúdo e percorria bastante os álbuns de família, espalhava as fotos todas no meio do chão. E entretinha-me, era uma espécie de companhia.” João Henriques recorda a infância, essa época em que fazia colagens com fotografias, para evocar o início da sua “ligação” com a área que viria a ocupar uma parte fundamental da sua vida.
Lembra que gastou “o primeiro ordenado todo em equipamento fotográfico”, quando tinha cerca de 20 anos. Mais tarde, depois da licenciatura em Gestão na Universidade de Évora, seguiu-se o mestrado em Fotografia no Instituto Politécnico de Tomar, onde atualmente é programador e curador do Centro de Estudos em Fotografia de Tomar — Casa dos Cubos. Foi, ainda, o vencedor do Prémio Novos Talentos FNAC de Fotografia, em 2015.
Em Torres Vedras, as primeiras exposições em que participou eram coletivas e decorriam do evento Traços de Identidade. “A minha relação foi-se adensando com este lugar justamente porque trabalhei sobre ele” afirma sobre o Concelho onde reside há 24 anos. “É como se gerássemos mais envolvimento porque sabemos ou queremos saber mais” explica, acrescentando que “esta relação com o território escreve-se todos os dias.”
Sobre O efeito estufa, a exposição que esteve na Paços — Galeria Municipal de Torres Vedras até 26 de março, refere que se tratou “de uma espécie de mosaico do património cultural, artístico, social e económico de Torres Vedras.”
As fotografias desta mostra centrada nas estufas surgiram durante o primeiro período de confinamento. “A certa altura começámos a inventar razões para sair de casa. Curiosamente numa dessas saídas, num desses passeios, levei a câmara, tirei algumas fotografias na zona e percebi que não a conhecia muito bem. Sobretudo aquelas três freguesias” acrescentou, referindo-se à União das Freguesias de A dos Cunhados e Maceira, Silveira e Ponte do Rol.
“Pensei que visualmente podia ser interessante, comecei a pensar de que maneira poderia abordar isso”, tornando O efeito estufa “num discurso contemplativo e crítico ao mesmo tempo.” Não fosse a própria folha de sala um “preçário” que se assume como “uma espécie de peça conceptual”.
Em conversa com a [Torres Vedras], João Henriques conta que este tipo de trabalhos “tem uma base de pesquisa muito grande em termos visuais, económicos e sociais. O que está aqui representado nem são tanto as estufas em si, mas uma espécie de abordagem complexa a este pequeno trecho do território.”
Depois de ter trabalhado outros “temas muito específicos deste lugar” como o Carnaval e as Linhas de Torres Vedras, João Henriques partiu para o retrato destas estruturas “que ocupam uma paisagem visual bastante importante, obviamente em termos económicos, não apenas estéticos. Têm um impacto muito forte que procurei, de certa forma, trabalhar artisticamente.”
Afinal, admite que “fotografar é apenas uma parte”. Soma-se a reflexão e o trabalho de pesquisa sobre temas que lhe interessam, que culminam em questões como “De que maneira é que vou incorporar esse saber na exposição? De que maneira é que vou construir um discurso crítico sobre aquilo que está a ser exposto?”
Texto: Rita Santos
Fotografia: Rita Santos e João Henriques