Um dos dinossauros carcarodontossaurídeos mais antigos descoberto no concelho
25.09.2018
Foi descoberto em Torres Vedras um dos dinossauros carcarodontossaurídeos mais antigos do mundo. Fósseis de um dinossáurio carnívoro indicam a presença de carcarodontossáurios no Jurássico Superior de Portugal há 145 milhões de anos.
Os membros deste grupo serão no final do Cretácico, mais de 50 milhões de anos depois, os superpredadores dos continentes do sul.
Uma equipa de paleontólogos associados ao Laboratório de Paleontologia da Sociedade de História Natural - SHN de Torres Vedras publicou recentemente, na prestigiada revista internacional Journal of Paleontology, os resultados do estudo de um conjunto de fósseis de um dinossauro terópode (carnívoro) descoberto em rochas datadas do final do Jurássico, com aproximadamente 145 milhões de anos, em Torres Vedras. O exemplar foi descoberto em 2001 por Graça Ramalheiro, associada da SHN, tendo o espécime sido escavado entre 2002 e 2003 nas arribas da Praia de Cambelas (Freguesia de São Pedro da Cadeira). O conjunto de fósseis descrito inclui uma sequência de vértebras caudais articuladas e um pé direito praticamente completo, para além de diversos fragmentos de outros elementos do esqueleto axial, apendicular e pélvico.
O registo fóssil do Jurássico Superior da região Oeste de Portugal, sobretudo na faixa costeira dos Municípios entre Torres Vedras e Peniche, é muito rico em restos de dinossauros e de outros vertebrados próprios de ambientes continentais. Nesta região foram identificadas pelo menos três espécies distintas de dinossauros terópodes e que são estreitamente relacionadas com as espécies contemporâneas do bloco continental da América do Norte.
A maior parte do registo fóssil de dinossauros terópodes conhecida na faixa costeira da região Oeste é proveniente de rochas da formação geológica Praia da Amoreira-Porto Novo, que corresponde a um conjunto de camadas sedimentares depositadas num antigo sistema fluvial durante o Jurássico Superior há aproximadamente entre 155 e 150 milhões de anos. Contudo, o terópode de Cambelas é proveniente de níveis da formação geológica de Freixial datados de há cerca de 145 milhões de anos, representando um dos registos mais recentes destes dinossauros no Jurássico Superior de Portugal.
O exemplar de Cambelas é atribuído a um grupo de dinossauros terópodes bem representado no Jurássico Superior de Portugal, Allosauroidea, mas apresenta uma combinação de características distinta de outras formas conhecidas neste registo, ou seja, de Allosaurus e de Lourinhanosaurus. O estudo sistemático do espécime permitiu identificar algumas características partilhadas com formas mais derivadas pertencentes ao grupo Carcharodontosauria. Os carcarodontossaurideos são um grupo de dinossauros terópodes muito diversificado no Cretácico do hemisfério Sul (África e América do Sul) mas que está também relativamente bem representado no antigo supercontinente Laurásia (atual Europa e parte da Ásia), por Concavenator e Neovenator do Cretácico Inferior de Espanha e de Inglaterra, respectivamente.
O fóssil da jazida paleontológica de Cambelas sugere uma maior diversidade na fauna de dinossauros terópodes alossauróides do Jurássico Superior de Portugal e, dentro destes, estendem o registo temporal do grupo Carcharodontosauria ao Jurássico Superior da Europa Ocidental e é o seu representante mais antigo conhecido até ao momento, permitindo conhecer melhor a evolução inicial deste grupo de dinossauros e constitui uma importante evidência para entender a sua dispersão durante o Jurássico Superior na Laurásia.
Para Bruno Camilo, diretor do Laboratório de Paleontologia da SHN, “este espécime não só é um exemplar de grande beleza, como nos permite assumir que Portugal tem muito mais interesse para a compreensão da dispersão de faunas durante o Jurássico Superior, do que antes pensado. A descoberta de um animal pertencente a um grupo que se julgava apenas existir neste período em África e na América do Sul, é de extrema relevância para repensar a geografia de então, já para não falar de que se trata de uma forma muito primitiva dentro deste grupo de dinossauros”.
O exemplar em questão já tinha sido alvo de publicação para o grande público em 2003, na revista National Geographic e está depositado na coleção paleontológica da Sociedade de História Natural de Torres Vedras.
Fonte: Sociedade de História Natural