O Último Lamento é um ritual fúnebre para o Mediterrâneo, visto aqui como um lugar de espera, suspensão e passagem, a encarnação de uma ausência - repositório de corpos e corpo em si mesmo. 

Um cruzamento de diásporas atuais, o Mar reverbera através da reconstrução coral de uma performance inspirada na antiga tradição dos lamentos profissionais, que liga o lamento da Sardenha - terra natal da artista - ao dos países vizinhos. Concebida como um ritual para a participação e não como uma performance a ser observada, O Último Lamento é um choro partilhado que relata a tragédia do mar e se estende como um eco a toda a bacia do Mediterrâneo. Orquestrado por 12 mulheres que, de costas para o público, pontuam a paisagem com as suas presenças sombrias, o ritual é feito a partir de repetitivas e hipnóticas partituras vocais e coreográficas que reconstroem códigos rituais em formas contemporâneas e abstratas, gestos simples que hibridizam o vocabulário da dança com sinais do património arqueológico e etnográfico, uma linguagem pré-verbal que, num crescendo que pretende encontrar um momento de clímax, cresce de uma respiração para um suspiro e um choro, ligando os enlutados ao ambiente e a todas as formas de vida, acabando por se tornar uma oração, uma ladainha - o resultado do encontro de mundos diferentes.

Conceção, dramaturgia, partitura física e direção: Valentina Medda


Música: Gaspare Sammartano


Vocalista principal: Marianna Murgia

Intérpretes: Marianna Murgia & alunos da Academia Espaço Dança

Figurinos: Filippo Grandulli


Execução dos figurinos: La Matrioska - laboratorio tessile creativo e sociale 

Produção: Zeit Art Research, Milão (IT) 

Coprodução: Sardegna Teatro, Cagliari, Bunker, Ljubljana, L'Arboreto - Teatro Dimora

Cofinanciado por Stronger Peripheries, um projeto de cooperação cofinanciado pelo Programa Europa Criativa da União Europeia 

The Last Lamentation foi comissariada por Maria Paola Zedda no âmbito do Conselho Italiano (2022).

Os dois primeiros estudos foram realizados em colaboração com Claudia Ciceroni e Alessandro Olla para a composição musical.

Valentina Medda 

Valentina Medda é uma artista interdisciplinar da Sardenha que atualmente vive e trabalha em Bolonha, Itália. Tem um mestrado em Filosofia e concluiu um Programa de Certificação em Fotografia no International Center of Photography, em Nova Iorque. Os seus projetos situam-se no cruzamento entre imagem, performance e intervenções site-specific e investigam a relação entre público e privado, corpo e arquitetura, cidade e pertença social. O seu foco principal é a forma como o corpo define o espaço e o espaço reflete o corpo, seja através da sua presença - como em Untitled - ou da sua ausência - como em “O último lamento”. Ao questionar a distinção entre a fisicalidade do indivíduo e a materialidade externa, Valentina está a construir uma geografia incorporada e a imaginar novos corpos híbridos, encontrando o fio que liga todos os elementos, naturais ou não. A prática de Valentina é específica do local e frequentemente participativa, de forma a criar uma comunidade baseada em projetos em torno de uma única obra, em vez de se dirigir a uma determinada comunidade desde o início.