Gelados Caravela
23.01.2025
A Gelataria Caravela é um nome icónico em Torres Vedras. Fundada em 1957, no coração da então vila, começou por vender apenas gelados de fabrico artesanal.
A história começa com o padrinho de Maria Alice, atual proprietária, e a quem chamam de “menina Alice”. Ao visitar Torres Vedras, incentivado a começar aqui negócio por um conhecido, Abílio encontrou um espaço promissor na Avenida 5 de Outubro, próximo à antiga central rodoviária, à escola industrial e à Associação de Educação Física e Desportiva. Era o local de onde tinha saído a Polícia de Viação e Trânsito, para ir para o Choupal. Abílio decidiu deixar Lisboa e mudar-se para Torres Vedras com a esposa e a afilhada Maria Alice, então com apenas 12 anos. Trouxe consigo também a receita dos gelados da Veneziana, nos Restauradores, e um produto novo: iogurtes. “Os primeiros em Torres Vedras”, lembra Maria Alice.
Rapidamente, a Gelataria diversificou a sua oferta para incluir queijos, enchidos, frutos secos, amêndoas com licor, e muitas outras delícias que marcam a diferença. “O queijo da serra é do artesanal”, faz questão de dizer Joaquim, o marido de Maria Alice, que diz estar casada há 100 anos, porque quando se trabalha com o marido, o tempo juntos duplica. A ele cabia fazer os gelados, uma tarefa que agora o filho, Pedro Estrela, assume para garantir a produção de abril a outubro. À Maria Alice sempre coube as vendas, porque sempre foi boa nisso. Como diz, “cada um tem a sua inclinação”.
As melhores recordações que tem é dos tempos em que tinha horas vagas na escola e voltava à loja para ajudar. Dos filhos a andar de bicicleta no passeio pela avenida, sempre com movimento. E das horas de almoço do antigamente, em que se vendiam 500 papos-secos e fatias de mortadela para a refeição. “Não havia cantinas”. Ao mesmo tempo, vendiam-se também 20 dúzias de pastéis de nata e 10 dúzias de bolas de berlim. E bolos-rei, tantos que o pasteleiro só folgava nos dias em que encerrava a Caravela.
A garrafeira, outro destaque da casa, exibe ainda hoje uma coleção impressionante de vinho do Porto, com rótulos que vão de 1900 a 2020. Preenchem as prateleiras de grande parte da loja, que aliás, aumentou de tamanho 10 anos depois da abertura.
Outro marco da Caravela são os famosos cups, cuja receita o padrinho trouxe da Casa das Farturas da Feira Popular de Lisboa. Apesar de disponível durante todo o ano, é no Natal e no Carnaval que a procura é maior, ainda mais depois de Susana Félix ter imortalizado o nome da Gelataria no Samba da Matrafona. “Uma surpresa, não foi encomendado!”, esclarece o senhor Joaquim.
A mulher acrescenta, já no final da conversa: “Ao longo dos anos, a Caravela mantém clientes que ainda são do tempo de escola e que dizem que a loja ainda mantém o mesmo cheirinho. Esta casa foi feita assim. Pelo puxa palavra, de pessoas que levam consigo produtos de qualidade e recomendam. Clientes que se tornam amigos. São família”, diz a menina Alice.