Ninguém viu, ninguém sabe, ninguém se lembra. A pedra partiu. Como continuamos?

[O Sistema] - a urgência de virar do avesso! É sobre um antes e um depois, e é sobretudo uma reflexão que vem de um sistema que não nos serve. Esta peça trata o sistema, qualquer sistema, como uma pedra que precisa ser partida, como um minério que precisa ser extraído, como um diamante bruto.

[O Sistema] explora a solidariedade gerada a partir do trabalho coletivo e aborda a própria noção de trabalho, de labuta como geradora de ação, de movimento.
Para este trabalho decidi capitalizar a amizade. Convidei as minhas amigas mais próximas para trabalhar comigo, para estar no estúdio comigo, para passear comigo. Para falar comigo.

A obra explora os limites da vida e da obra, as fronteiras do performar e do não performar, os limites de um acontecimento, de um acidente.
Como coreografar o caos? Como continuar, quando não sabemos como, ou não faz sentido? Como continuar? Pago-lhes, mas fariam isto por amor? De certa forma, estou a capitalizar o amor.
Estou interessada em partir do sistema convencional, para propor um outro. Como em todos os meus trabalhos, o conceito reflete-se tanto no conteúdo, como na forma como a peça é apresentada. Além do tema central, há sempre uma reflexão sobre o teatro como lugar, ritual e disciplina.

[O Sistema] continua a investigar esse fluxo de instruções, por meio de um sistema in-ear, já presente na peça anterior UM [unimal], expondo as instruções ao público e incluindo-as como elemento coletivo, nessa relação de poder.
No palco, o dispositivo é virado do avesso e tudo o que costuma estar escondido, é mostrado, assumindo a sala de teatro, na sua totalidade, como um lugar fluído, sem lugares definidos para cada papel desempenhado, nem fronteiras para um desfecho.
Tudo o que as intérpretes fazem, são instruções dadas às intérpretes através do dispositivo sonoro.
Como ponto de partida para a prática do movimento, concentrei-me principalmente nos movimentos (físicos e sociais) dos mineiros. Talvez me interesse a solidão e a escuridão da mina, a sensação de profundidade, enfrentar os problemas, cara a cara, com as entranhas da terra.

[O Sistema] traz a pedra como metáfora: quebrar pedra; colocar a primeira pedra; a ideia de extração de dentro; construção e demolição; moldar a matéria; esculpir e saber que tudo o que é necessário para a escultura já está na pedra – só falta retirar o que não pertence à escultura.
É também na matéria rochosa que notamos as fissuras, e é justamente nessas brechas que ocorre o ato revolucionário, provocando uma fratura, um acontecimento. Nesse ponto, todos naquela sala são responsáveis.

Ficha Artística

Conceito, Direção Artística & Coreografia: Cristina Planas Leitão
Interpretação e cocriação: Anaísa Lopes, Àngela Diaz Quintela (em substituição de Mara Andrade), Daniela Cruz
Desenho de luz: Cárin Geada
Sonoplastia: Ricardo Cabral e José Miguel Silva
Videoplastia de cena: Sofia Arriscado
Consultoria de figurinos: João Rôla
Objetos cénicos: Softrock
Apoio à dramaturgia: Catarina Miranda
Gestão de projeto: Joana Ferreira / bactéria
Design gráfico: Irina Pereira
Fotografia: Dinis Santos
Outside Eyes: Evangelos Kalfopoulos Kitty Furtado, Mariana Duarte, Melissa Rodrigues, Nuno Preto, Rita Diamond Casais, Vânia Rodrigues
Residências e apoio à criação: Materiais Diversos, O Espaço do Tempo, WP Zimmer (Antuérpia), CRL - Central Elétrica

Produção: bactéria

Coprodução: 23 Milhas / Câmara Municipal de Ílhavo, Teatro Municipal de Faro, Teatro Académico Gil Vicente

Apoio Financeiro: Ministério da Cultura / DGArtes - Apoio Pontual 2021

Agradecimentos: FITEI, Teatro Viriato, Artur Vieira, Magda Henriques, Maria José Cifuentes, Miguel Bonneville, Pedro Barreiro